Que Friboi que
nada. Picanha argentina, nem pensar. Chouriço do Uruguai, deixa para lá.
Você vai entrar na onda da carne de raça, macia e saborosa. Muito mais
que as outras. Ela vem de longe mas está sendo adaptada no Brasil, com
sucesso. Raça wagyu para melhorar a qualidade da carne. No Japão, o
quilo do contrafilé chega a quase R$ 2 mil; aqui, o quilo chega a R$
300. Criadores do MS experimentam o cruzamento de nelore com wagyu, cuja
a carne também é muito saborosa e pode ser vendida mais barata.
O
boi japonês wagyu é um animal que produz uma carne muito saborosa, e
que também é a mais cara do mundo. Em Mato Grosso do Sul, uma
experiência de cruzamento entre o wagyu e o nelore, está em andamento e
pode melhorar a qualidade da nossa carne.
A raça wagyu foi
introduzida no Brasil há 23 anos pela empresa japonesa Yakult. Hoje a
fazenda deles, na cidade de Bragança Paulista, perto de São Paulo, tem o
maior rebanho do país. São 500 animais puros. Embora exista também
wagyu de pelagem avermelhada, na fazenda predomina a linhagem escura,
chamada black wagyu.
Esse boi japonês, na verdade é um taurino de origem europeia, introduzido no Japão para puxar arado nas lavouras de arroz.
O
médico veterinário Rogério Uenishi, diz que a principal função da
fazenda é fornecer animais e material genético para desenvolver a raça
wagyu no Brasil.
O que mais chama a atenção nessa raça é uma
característica genética. O wagyu produz carne marmorizada, isto é, com
veios de gordura entremeados em suas fibras, imitando uma pedra de
mármore, o que confere maciez e sabor especial à carne.
A
diferença fica evidente ao comparar um corte de contra file da raça
wagyu, com o contra file da raça nelore. (veja no vídeo acima). Ao levar
a carne para a brasa de uma churrasqueira, a gordura se derrete sem
fundir as fibras da carne, por isso ela fica suculenta e muito macia.
“Uma diferença grande que tem da gordura do wagyu, comparada à outra
raça é que o wagyu é mais rico em ácido graxo insaturado, o bom
colesterol. Mas lógico, que se você exagerar em comer a carne do wagyu,
porque é mais saborosa, deve tomar cuidado, como com qualquer exagero”,
explica Rogério Uenishi, veterinário.
Nas boutiques de carne do
Brasil o contra filé de wagyu é vendido a R$ 300 o quilo, 12 vezes mais
que o contra filé comum vendido no açougue. No Japão essa carne é
conhecida pelo nome de kobe beef. Uma coqueluche da culinária
internacional. É o bife mais saboroso e mais caro do mundo. Pode custar o
equivalente a R$ 2.500 o quilo, por isso os criadores japoneses se
esmeram no manejo e na alimentação.
Lá os animais são
massageados, borrifados com saquê e ganham até uma cervejinha de brinde.
Eles acreditam que a massagem e o álccol funcionam como uma drenagem
linfática favorecendo a marmorização da carne.
No Brasil, os
animais da raça wagyu recebem uma alimentação tão boa quanto à do Japão.
Silagem de milho, concentrado e feno. “No Brasil não temos condições de
massagear, dar cerveja, nem borrifar com saquê os animais. A cerveja
fica para os peões que cuidam dos animais”, brinca Uenishi.
Hoje a
fazenda abate seis animais por mês e vende a R$ 480 a arroba, três
vezes mais que o valor pago para animais de outras raças. Mas para
chegar ao peso de abate, cerca de 700 quilos com o marmoreio ideal, eles
precisam manter os animais 18 meses em confinamento, com muita comida
balanceada à disposição.
Na fazenda Araci, no município de Rio
Brilhante, a cerca de 200 quilômetros de Campo Grande, no Mato Grosso do
Sul. O produtor Alair Fernandes cria gado nelore e começou a formar seu
rebanho wagyu há oito anos. Hoje tem quase 400 animais puros. Este ano,
finalmente, vai poder vender seu primeiro lote para o abate. São 16
machos castrados de 37 meses, que passaram 25 meses no confinamento para
atingir média de 700 quilos cada um. “Nós buscamos um mercado de carne
premium. Tudo tem sido um aprendizado. Mas a gente percebe que na época
da desmama é importante ter um bom manejo”, avalia Fernandes.
O
wagyu ainda está em fase de adaptação ao clima de Mato Grosso do Sul. A
pele escura, por exemplo, é um problema, porque atrai moscas e
carrapatos.
Para diminuir os custos da engorda e criar um animal
mais adaptado ao clima, a fazenda Nova Vista Alegre, no município de
Terenos, também no MS, está fazendo uma experiência de cruzamento de
wagyu com a raça nelore.
No início eles usaram sêmen de touros
wagyu nas vacas nelore. Hoje usam a monta natural. O trabalho começou há
10 anos por iniciativa do Toshio Hisaeda. Ele batizou os animais, fruto
do cruzamento de wagyu com nelore de Walore. Os animais nascem com a
pelagem escura natural da raça wagyu e por enquanto se mostram muito bem
adaptados ao clima quente de Mato Grosso do Sul. A fazenda já tem mais
de cinco mil animais. Das cinco mil cabeças metade é meio-sangue, o
restante é três quartos ou sete oitavos.
“Como eu estou usando
aqui só o pasto, o custo não encarece tanto quanto no Japão. Então não
tem aquele marmoreio, mas quanto ao sabor, eu acho que será mais
gostoso. Então eu acredito que tem mercado sim”, explica Hisaeda.
O
médico veterinário Lucio Casa Nova diz que já dá para notar que os
animais cruzados são mais resistentes ao clima da região. “A gente busca
no cruzamento com o nelore, aprimorar mais a rusticidade, com a
qualidade e sabor da carne”, diz.
A fazenda já está abatendo
alguns animais cruzados para testar o gosto do consumidor de Campo
Grande. A carne do Walore engordado a pasto não apresenta o mesmo teor
de marmorização do wagyu puro, mas comparada com a do nelore, ela ainda
leva vantagem, porque tem mais gordura entremeada às fibras, é mais
macia e saborosa.
Na opinião do zootecnista Luis Octavio Campos
da Silva, da Embrapa Gado de Corte, que acompanha o trabalho do Toshio,
ainda não dá para saber em que tipo de animal a fazenda deve apostar
para unir rusticidade, ganho de peso com maciez e sabor da carne.
“Essa
região não é muito favorável a ele, mas está se desenvolvendo aqui uma
proposta de wagyu adaptado de cruzamentos com o nelore e nós vamos
começar a medir qual é o desempenho destes vários graus de sangue de
wagyu que vem se comportando e qual é o tipo e vantagem de um ou de
outro. São varias as possibilidades que essa raça tem de contribuir para
a produção de carne no Brasil, aumentando sua qualidade”, declara.
Hoje
existem cerca de 50 criadores de wagyu no Brasil. O rebanho total é de
cinco mil animais. A oferta é pequena e o mercado para uma carne tão
cara ainda é restrito. Outro problema é a proibição, imposta pelo
governo japonês, para a saída do país de animais e material genético da
raça wagyu.
Veja reportagem completa no Portal G1/Globo Rural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário