terça-feira, 10 de novembro de 2015

Que tal fazer uma marmita?

                         

Despesa do carioca com refeição sobe até 55%


Comer fora de casa está ficando muito caro ao ponto de uma consumidora caçar restaurantes com pratos feitos a preços mais em conta: ela conseguiu um, muito depois, por R$ 15. Veja na reportagem do Extra.


A despesa do carioca com um simples prato feito subiu 55,2% em dois anos. Nos restaurantes a quilo, houve outra alta significativa de 2013 para 2015: 42%. Os dados da Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert) evidenciam o que o consumidor sente no bolso e se aproximam do que constatou uma pesquisa feita pelo EXTRA em 14 restaurantes do Centro e de dois shoppings na Zona Norte do Rio: um almoço de 500 gramas, hoje, custa, em média, R$ 25.

A auxiliar administrativo Elaine do Vale, de 25 anos, vai começar a trabalhar no Centro, em breve. Na semana passada, ela fez uma experiência, almoçando num restaurante da região. Para economizar o tíquete-refeição de R$ 150 por mês, ela deverá optar por pratos feitos:

— Sai mais em conta do que almoçar em restaurantes a quilo. Agora, paguei R$ 15. Com o refrigerante, a conta ficou em R$ 20, um preço normal. Mas como o tíquete nunca chega ao fim do mês, vou levar marmita.

O advogado Alexandre Ferreira, de 42 anos, que não tem tíquete-refeição, gasta R$ 600 por mês, considerando almoços, bebidas e cafezinhos.

— Nos últimos dois anos, o aumento foi de 50% a 80%. Hoje, comi 400 gramas, sem bebida, e gastei R$ 23.

A localização geográfica também conta, e a diferença pode chegar a 9,8% no preço médio da refeição num restaurante a quilo, dependo do bairro. Segundo a Sodexo, em Madureira e Ramos, na Zona Norte, o custo médio é de R$ 23,92. Em Botafogo, na Zona Sul, a média passa para R$ 34,06.

— A inflação atinge os restarantes de forma equivalente, por causa das altas de energia e dos combustíveis, além da variação do câmbio, mas dentro da cidade, há diferenças de custos — como o de aluguel — além da renda per capita (por habitante). Quando a inflação chega aos alimentos essenciais, fica difícil — disse André Braz, economista da Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre).

Cartão para trabalhador acaba no dia 20

“E sobrou muito mês após o fim do tíquete-refeição”. Esse é o desafio enfrentado cotidianamente por milhares de trabalhadores que recebem o benefício. Na maioria dos casos, o reajuste do valor não acompanha a alta da inflação da alimentação fora de casa. Segundo Gilberto Braga, professor de Finanças do Ibmec/RJ, o cartão normalmente não passa do dia 20.

— O movimento nos restaurantes cai consideravelmente, e as filas desaparecem em vários estabelecimentos. Antes de a inflação corroer a renda real, os trabalhadores continuavam frequentando os restaurantes e pagando a conta do próprio bolso. Agora quando o tíquete acaba, as pessoas levam a comida de casa — disse ele.

Fuga de clientes pressiona restaurantes

O custo da alimentação em restaurantes e lanchonetes subiu 0,8 pontos percentuais a mais do que o da refeição no domicílio. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta dos preços da comida na rua foi de 8,9%, no acumulado do ano, enquanto o gasto para se alimentar em casa subiu 8,1%. Os produtores de alimentos vêm repassando os aumentos da energia e dos combustíveis, mas os donos dos estabelecimentos sentem-se pressionados pela fuga de clientes.

— Alguns passaram a mudar o cardápio ou a fazer promoções. Se o preço subir, o local ficará vazio — disse Alexandre Espírito Santo, economista da consultoria Órama.

Nem promoção ajuda

A fuga de clientes é sentida por gerentes e donos de restaurantes, que, em alguns casos, não sabem mais o que fazer para minimizar o impacto da crise nos negócios.

— Os clientes sumiram. A gente tenta fazer promoções, tenta conceder descontos de 10%, mas nem isso adianta. O movimento, no entanto, caiu para todo mundo — contou Antônio da Silva Filho, gerente de dois restaurantes a quilo no shopping Nova América, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio.

Fila em restaurante de buffet livre, sem balança. Modalidade tem sido a preferida
Fila em restaurante de buffet livre, sem balança. Modalidade tem sido a preferida Foto: Rafaella Barros

Quem continua comendo fora, por necessidade, se vira como pode. Nos dias em que sente mais fome, a técnica de operações e suporte Gabriella Soares, de 20 anos, opta pelos restaurantes com bufê livre, sem pesar o prato na balança. Estes estabelecimento eram os que atraíam mais clientes enquanto o EXTRA esteve no shopping.

— Compensa mais. Hoje (sexta-feira passada), almocei num restaurante que cobra R$ 40 pelo quilo. Antes, custava R$ 25 — contou.

Migração para quentinhas

Há oito anos vendendo quentinhas num dos acessos da estação do metrô no Largo da Carioca, no Centro do Rio, Antônio Carlos Oliveira, de 57 anos, faz um diagnóstico da crise:

— Quem antes comia nos restaurantes está vindo atrás de quentinha. Mas quem comprava comigo passou a levar comida de casa (para o trabalho), porque sai mais barato.

Antonio Carlos e seu cliente José Pinheiro: migração de consumidores de restaurantes para quentinhas
Antonio Carlos e seu cliente José Pinheiro: migração de consumidores de restaurantes para quentinhas Foto: Rafael Moraes / Extra

O bancário José Pinheiro, de 45 anos, é um dos clientes que deixaram os restaurantes:

— Desde fevereiro, eu compro quentinhas. Eu gastava R$ 400 apenas com almoço. Reduzi pela metade.

Os tempos difíceis, no entanto, não tiram o otimismo de Antônio, que também é cozinheiro. Se, por um lado, as vendas das quentinhas de 750g caíram, as menores, de 500g, tiveram aumento. Ele, no entanto, não revela números por temer os concorrentes.

— A menor custa R$ 8 em dinheiro e R$ 10 em tíquete. A maior sai por R$ 10 e R$ 12 (respectivamente). Desde janeiro, não aumento os preços. Por R$ 0,50 a mais, os clientes vão para a concorrência.

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