terça-feira, 10 de novembro de 2015
No Rio: comércio ligado à moda responde pela maior parte das empresas
Levantamento mostra que estabelecimentos de vestuário e acessórios são 6,6% do total, aponta matéria do Globo.
Produz, lança, vende e consome tendência. O Rio é mesmo uma capital da moda, comprovam números de um levantamento da Junta Comercial do Estado do Rio (Jucerj), feito a pedido do GLOBO. Num perfil da cidade a partir dos negócios que movimentam a economia local, os estabelecimentos ligados ao mundo fashion são a atividade mais comum em todas as regiões. Das cerca de 247.600 empresas cariocas, o comércio varejista de vestuário e acessórios responde pela maior fatia: 16.346 (ou 6,6% do total).
São 7.776 empresas do tipo só na Zona Oeste (mais do que o dobro da segunda atividade do ranking na região: a de cabeleireiros, manicures e pedicures, com 3.696 negócios). Já na Zona Sul, são 3.606, deixando na vice-liderança os serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas (com 2.551 empresas). Na Zona Norte, são 3.196; e no Centro, 1.768.
Se o ranking for feito por bairro e considerar não só o comércio varejista, como o atacadista, o maior número de empresas se concentra no Centro (1.975), seguido de Barra da Tijuca (1.785), Copacabana (1.160), Campo Grande (950) e Tijuca (768). E até áreas normalmente identificadas com outras atividades, como Benfica, o bairro dos lustres, tem no vestuário seu setor mais numeroso (são 43 negócios).
Qual o jeito carioca de se vestir?
Estudante de moda, a moradora do Leblon Júlia Maria Kastrup trabalha como vendedora na loja de roupas femininas Dress To, na galeria Fórum Ipanema. O estabelecimento fica em frente à Praça Nossa Senhora da Paz, no meio do Quadrilátero do Charme de Ipanema (polo comercial entre as ruas Aníbal de Mendonça e Joana Angélica e as avenidas Vieira Souto e Epitácio Pessoa). Júlia reconhece na região, assim como no Rio como um todo, uma badalada passarela para o setor. E sonha um dia criar os modelos expostos nas vitrines e desfilados pelos cariocas nas ruas.
— Existe um jeito carioca de se vestir, com as estampas, rendas... Tenho medo da minha escolha profissional, porque é um mercado muito disputado e difícil. Mas comecei a trabalhar em lojas para já me acostumar com esse ambiente. Ipanema, talvez até por não ter shoppings, vive o mundo nas ruas, com várias marcas uma perto da outra — diz ela.
Vitrine em Ipanema, um dos principais polos de moda no Rio: negócios ligados à vaidade se destacam em todas as regiões - Custódio Coimbra / Agência O Globo
Apesar da clara vocação da Zona Sul de lançar tendências, na região estão alguns dos poucos bairros onde outras atividades superam a do comércio de roupas e acessórios. No Leblon, por exemplo, as campeãs são as consultorias em gestão empresarial (exceto consultoria técnica específica). São 41, que prestam serviços como assessoria e orientação para gestão de negócios, procedimentos de contabilidade geral ou relações públicas e comunicação. Já no Jardim Botânico, Humaitá e em Santa Teresa, predominam as empresas de serviços de organização de feiras, congressos, exposições e festas.
Na Zona Norte, a Abolição chama a atenção, por também ser um dos bairros que contrariam a tendência geral da cidade — mas a influência da vaidade continua. Ali, os donos do pedaço são os salões de beleza. Num bairro de pouco mais de 11 mil habitantes e 0,62 quilômetro quadrado, 52 estabelecimentos oferecem serviços de cabeleireiros, manicures e pedicures ou de estética e outros cuidados de beleza. Nas imediações da Avenida Dom Hélder Câmara, fica um ao lado do outro: recém-abertos, especializados em noivas, moderninhos e outros tradicionais, como o Salão Real, na Rua Cantilda Maciel.
Barbeiro que tem quase meio século no subúrbio
Terços, santos e calendário na parede, caixa registradora das antigas, bancada de espelhos e gavetas de madeira... Do mesmo jeito que anos atrás, o estabelecimento resiste no mesmo endereço desde 1950. E conserva uma figura que, aos poucos, vai desaparecendo: o barbeiro. Faz 49 anos que Aloisio Roberto Freitas, de 78, bate ponto no mesmo lugar. Aprendeu o ofício com o pai, no interior da Bahia. Aos 17 anos, veio para o Rio, já hábil no manuseio da navalha e tesoura — e assim ganha a vida desde então.
— Meus amigos são meus clientes. Mas hoje em dia está muito difícil. Barbeiro é profissão em extinção. Os que existem são velhos iguais a mim. Agora, os cabeleireiros é que dão as cartas — diz ele.
Na cadeira ao lado dele, por exemplo, a cabeleireira Elizabeth da Silva Souza, de 45 anos, é a soberana já há 14 anos. Ela diz que, desde que se entende por gente, gosta de cortes e penteados. Mas sabe que é difícil se manter numa profissão com tanta concorrência.
— Com um cursinho de seis meses, a pessoa já abre um salão. Aqui no bairro, já vi muitos inaugurarem, fecharem, mudarem de direção, fazerem rodízio de funcionários... É complicado manter o negócio — afirma.
Tecnologia no salão
Para conseguir essa proeza, sobretudo em época de crise, ela diz que bom atendimento e serviço são essenciais. Mas às vezes é preciso fazer mais para agradar ao freguês. Na Tijuca, há salão que recepciona a clientela com água de coco com pedaços de morango. Na Barra da Tijuca, um estabelecimento exclusivamente masculino conta com jogo de Playstation para entreter a rapaziada. É esse bairro, aliás, que tem o maior número de empresas de cabeleireiros, manicures e pedicures do Rio, com 384 registradas na Jucerja. Logo em seguida, aparecem o Centro, com 326, e Copacabana, com 325.
Os três bairros sobem ao pódio também em outros importantes segmentos do jeito carioca de ser. Bares e demais estabelecimentos especializados em servir bebida, por exemplo. São 917 no Centro, 747 na Barra da Tijuca e 368 em Copacabana. São os três primeiros colocados também quando considerados restaurantes e similares, com o Centro na liderança (1.257), seguido de Barra (904) e Copacabana (484).
Mas, quando se trata do comércio varejista e atacadista de cosméticos, perfumaria e produtos de higiene pessoal, que inclui as drogarias, Copacabana perde o posto para Campo Grande. São 893 no Centro, 825 na Barra e 525 no bairro da Zona Oeste.
Campo Grande, aliás, é o pedaço do Rio com mais padarias e confeitarias, seja para produção própria ou revenda, com 267 empresas, além de ser o terceiro com mais comércio atacadista e varejista de sapatos (345).
Presidente da Jucerja, Luiz Velloso ressalta que, em todo caso, a quantidade de lojas pode ser maior, já que os números levam em consideração as empresas (que não necessariamente têm registros diferentes para cada um de seus estabelecimentos) e não incluem os microempreendedores individuais (MEI), contabilizados em outro cadastro e em expansão, por exemplo, nas favelas. Esses últimos, pequenos negócios com faturamento anual menor do que R$ 60 mil, já chegam a 273.870 na cidade. Só Campo Grande, Bangu e Santa Cruz, somam 5.409 deles no setor de vestuário e acessórios.
Crise e obras fecham lojas no Centro do Rio
De forma geral, diz Velloso, os números revelam a forte vocação da cidade para o comércio e serviços. A crise econômica, reconhece ele, tem afetado não só esses setores, como as empresas como um todo. No município do Rio, no entanto, Velloso afirma que a situação é um pouco melhor do que em outras regiões.
— O dado da capital é muito positivo. Com toda a crise, acredito que haja uma influência positiva por conta das Olimpíadas. De janeiro a agosto deste ano, foram 13.919 empresas abertas na cidade, contra 12.365 no mesmo período de 2014. É um aumento de 11%. E, para melhorar, temos adotado uma série de medidas desburocratizantes, com o objetivo de facilitar a criação de empresas — diz.
Aldo Gonçalves, presidente do Clube dos Diretores Lojistas (CDLRio) e do SindiLojas, confirma que a moda é a ponta de lança do comércio carioca:
— O Rio é uma cidade voltada para a moda, que lança tendências. A maior parte dessas empresas, que estão espalhadas por toda a capital, é de pequeno e médio porte.
Ele, no entanto, destaca que até o segmento fashion está sendo afetado pela crise. Mas não apenas esse. Considerando todos os setores, só no Centro já foram fechadas 600 lojas este ano — em todo o município, foram 1.300.
— O comércio está na linha de frente quando há crise. É diretamente atingido. Fatores como inflação e juros em alta, além de desemprego e cenário de incertezas para os empresários, são decisivos para isso. No caso do Centro, a grande quantidade de obras que dificultam o acesso à região também afeta os negócios — diz.
Apesar disso, números analisados pela Fecomércio-RJ, com base na Relação Anual de Informações (Rais) de 2014, do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que o Centro, a despeito do crescimento de outras regiões da cidade, continua sendo a área com mais estabelecimentos comerciais do Rio: 25.534. Isso, num universo de 275.547, onde 166.860 (60,6%) são de comércio de bens, serviços e turismo, empregando 1,1 milhão de pessoas.
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