quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Economia - Brasil e China: vínculo estreito ou desgraça brasileira

O Brasil é o país do mundo emergente mais afetado pelo crescimento chinês e por conta disso estaria num processo de "desindustrialização" do seu parque industrial que é o maior da América Latina. O que acontece na moda e na fabricação de tecidos já chegou a ser denunciado, por exemplo. Este é o alerta publicado pelo jornal argentino El Clarín, em uma análise econômica de nosso país feita por Jorge Castro, economista.



A China cresceu 7,4% anual em 2014 (7,3% no último trimestre), o menor nível dos últimos 25 anos, 4 pontos abaixo dos valores alcançados entre 2001 e 2008 (11% anual), e reduziu em 7 pontos a taxa de investimento na comparação com esse período. Os outros dados fundamentais da economia chinesa são os seguintes: os serviços cresceram mais do que a indústria (12% anual vs. 8,3%); a receita per capita rural se expandiu mais rapidamente do que a urbana (11,2% vs. 10%); e as vendas varejistas aumentaram 12%, arrastadas pelas compras on-line, que aumentaram 49,7% (450 milhões de consumidores).

Isso acontece enquanto a força de trabalho (50% industrial) ficou em 910 milhões, uma redução de 3,7 milhões. Se esse nível de diminuição se mantiver, a indústria manufatureira chinesa terá 50 milhões de trabalhadores a menos em 2030, mas com uma produtividade 10 vezes superior.

Salários
Os salários reais aumentaram 20% anual nos últimos 6 anos; e o resultado, apresentado sob a forma de necessidade, foi que a produção se intensificou com uma tecnologia cada vez mais sofisticada, que aumenta a escala do valor agregado e redefine as vantagens comparativas da República Popular no mercado mundial.

A desaceleração da economia chinesa não diminui sua importância global, ao contrário, ela a aumenta. O crescimento de 7,4% em 2014 equivale ao nível de expansão de 10% em 2010 (+ US$ 800 bilhões por ano), devido à ampliação da base econômica, com o agregado de que agora foram criados mais empregos do que naquele momento (13 milhões de novas vagas de trabalho em 2014), a maior parte no setor de serviços. Por isso, a participação da China no crescimento mundial subiu para 35% do total em 2014 (EUA, 15%); e sua economia é a maior do mundo (US$17,79 trilhões em termos de capacidade de compra doméstica/PPP).

Brasil

O Brasil é o país do mundo emergente mais afetado pelo crescimento chinês (no mundo avançado é a Austrália). Como? para cada 10 pontos de queda do preço das commodities provocado pela desaceleração do PIB da República Popular, o produto brasileiro diminui 1,2%.

Essa extrema vinculação acarreta como contrapartida que o comércio internacional brasileiro se quadruplicou entre 2000 e 2011, e que o intercâmbio com a China cresceu 40% ao ano, o que permitiu um superávit comercial de US$ 40 bilhões em 2008 (esse superávit foi de US$ 2 bilhões em 2001); e nesse período os preços das commodities que o Brasil exporta (soja e mineral de ferro) se elevaram 227% devido à demanda chinesa.

As exportações manufatureiras brasileiras para o mercado chinês chegam a 5% do total. A razão desta irrelevância é que a diferença entre os custos de produção brasileiros e chineses duplicou entre 2006 e 2013 (essa diferença era 15,8% e subiu para 30,3%).

A crescente complexidade tecnológica e a ascensão na escala do valor agregado da indústria chinesa multiplicam os nichos para os bens manufaturados do exterior. Isso significa que o aumento das exportações manufatureiras brasileiras depende fundamentalmente da queda do “custo Brasil”.

Fechado

O Brasil é um dos países mais fechados do mundo, com uma relação comércio internacional/PIB de 27,6% (essa relação na China é de 75%); e suas exportações manufatureiras são apenas 25% do total.

A razão desta carência é que os bens industriais exportados pelo Brasil têm um componente nacional de 93% (na China é de 20%), o maior entre os países industriais; e esses componentes domésticos têm custos superiores em 30%/40% em comparação com os de seus competidores, e em primeiro lugar com os da República Popular.

Em termos estruturais, isso implica que a indústria brasileira – a maior da América Latina e a única que conseguiu concluir o processo de substituição de importações – é alheia ao sistema integrado de produção transnacional, baseado na fragmentação da produção, que é o núcleo do capitalismo do século 21.

Essa omissão é a causa essencial da crescente “desindustrialização” brasileira, a sexta economia do mundo e a terceira em capacidade para atrair o investimento direto das empresas transnacionais (a IED que recebeu o Brasil em 2014 subiu para US$ 65,5 bilhões).

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