Um morador da
Região Serrana e 13 da capital tiveram a doença identificada pela
Fiocruz, afetadas pelo mosquito Anopheles kertezia cruzii, transmissor
da doença. O que antes parecia distante aos rincões amazônicos, ou
outros países, retorna como pesadelo e sem qualquer explicação.
Cientistas pedem que as pessoas se afastem das florestas por enquanto.
Considerado
oficialmente livre da malária há quatro décadas, o estado do Rio volta a
registrar aumento dos casos da doença. Os casos diagnosticados na
Fiocruz estão sob vigilância epidemiológica na Secretaria de Estado de
Saúde e no e Ministério da Saúde porque, ao que tudo indica, são
originados no próprio estado e não "importados" da Amazônia. Um episódio
de malária acontece na Região Serrana, confirmado pela Fiocruz no
réveillon. O padrão da doença é diferente do registrado na Amazônia,
área onde a malária é endêmica. Segundo o geneticista Mariano Zalis, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, que analisa as amostras
moleculares coletadas na serra, apenas um dos 14 casos é morador da
região. Os demais são visitantes, moradores da Zona Sul do Rio de
Janeiro
Os casos foram identificados pelo Ambulatório de Doenças
Febris Agudas do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da
Fiocruz, que integra o Centro de Diagnóstico e Treinamento da Malária
(CPD-MAL), liderado pelo médico imunologista Cláudio Tadeu Daniel
Ribeiro, um dos maiores especialistas do mundo na doença.
O
trabalho faz parte da pesquisa de Patricia Brasil, chefe do DFA/INI e de
Anielle Pina-Costa, enfermeira e doutora do mesmo serviço. Estudos
moleculares estão sendo conduzidos pelo grupo do geneticista Mariano
Zalis, do Laboratório de Infectologia e Parasitologia Molecular do
Hospital Universitário Clementino Fraga da UFRJ e também pioneiro no
estudo genético da malária no Brasil e pelo grupo de Cristina Brito, da
Fiocruz de Belo Horizonte.
O objetivo é o total sequenciamento do
genoma do parasita plasmódio causador da doença para a identificação de
sua origem. De acordo com Zalis, da UFRJ, entre os 14 casos há uma
mulher e uma criança. Um casal que havia ido tomar banho de cachoeira
com o filho.
Os especialistas destacam que não é caso para
pânico, ou de deixar de frequentar as areas de floresta dessas regioes,
mas de redobrar a atenção com os sintomas e a busca de tratamento de
adequado. A malária que afeta a região de Mata Atlântica não é letal.
Mas pode causar episódios permanentes de febre, calafrios, dores de
cabeça e no corpo e prostração se não for tratada adequada e
rapidamente. O uso de repelente é essencial. Há casos em localidades de
Petrópolis, Friburgo, Lumiar, Sana e Guapimirim.
Por falta de
conhecimento dos médicos de fora da Amazônia, desacostumados com
malária, pode haver demora do tempo decorrido entre o aparecimento dos
sintomas — o que acostuma acontecer em torno de 10 dias após a infecção —
até o diagnóstico.
Na Amazônia, 60% dos casos são diagnosticados
e tratados nas primeiras 48 horas, mas fora dela, esse percentual cai
para somente 19%. Não se trata de falta de atendimento — a maioria dos
pacientes foi atendida em clínicas particulares conceituadas. Mas só
quando procuraram a Fiocruz receberam diagnóstico adequado
Patricia,
Anielle e Ribeiro estudam a malária no estado do Rio, com colegas de
outras áreas da Fiocruz e de outras instituições desde 2008, dentro do
projeto "Malária da Mata Atlântica". Daquele ano a 2014 foram 15 casos.
No início de 2015, apareceram 14 casos. Os pesquisadores atribuem o fato
a condições climáticas (verão seco e quente que favoreceu a
proliferação do mosquito Anopheles kertezia cruzii, que usa o "copo" das
bromélias nativas da Mata Atlântica como criadouro.
Uma das
hipóteses consideradas por eles é que o mosquito pique o macaco e cause
nele a malária. Quando, eventualmente, pica o homem, transforma a doença
numa zoonose, com dois hospedeiros vertebrados, o macaco e o homem.
"Aqui
não é a Amazônia, onde se espera encontrar malária. O trabalho de
identificação é mais lento do que o normal porque os médicos não pensam
em malária, quando atendem as pessoas com sintoma", explica Mariano
Zalis.
Por falta de desconhecimento dos médicos do município do
Rio, desacostumados com malária, entre o aparecimento dos sintomas — o
que acostuma acontecer em torno de 10 dias após a infecção — até o
diagnóstico pode levar mais de 40 dias. Não se trata de falta de
atendimento — a maioria dos pacientes foi atendida em clínicas
particulares conceituadas. Mas só quando procuraram a Fiocruz receberam
diagnóstico adequado.
Anielle estuda malária no estado do Rio
desde 2008, dentro do projeto "Malária da Mata Atlântica". Daquele ano a
2014 foram 15 casos. No início de 2015, apareceram 14 casos. Ela e
Claudio Ribeiro atribuem o fato a condições climáticas (verão seco e
quente que favoreceu a proligeração do mosquito Anopheles kertezia
cruzii, que usa o "copo" das bomélias nativas da Mata Atlântica como
criadouro. Ele pica o macaco e e este eventualmente pica o homem.
Tudo
indica que se trata de um fenômeno ambiental. Poderia ser uma
exacerbação de condições da transmissão de uma malária residual na
região, desde que que a doença se se concentrou na Amazônia (onde estão
mais de 99% dos casos no Brasil), há muitos anos.
"A malária
sempre pode ter estado ali. Porém, o calor extremo, que favorece a
proliferação do mosquito transmissor, a seca, que impede que as chuvas
levem as larvas das bromélias, e a busca dos turistas por lugares mais
frescos e pitorescos parecem ter sido a combinação para o aumento de
casos. Ao que tudo indica, a maioria das vítimas foi picada ao tomar
banhos de cachoeira no meio da mata", diz Anielle.
Nenhuma das vítimas corre risco de morte. Todas estão bem.
"O
aparecimento da malária nas florestas serranas é mais um alerta
ambiental. As pessoas estão cada vez mais dentro da mata. Esse fenômeno
aconteceu também na Malásia e um parasito que causava doença apenas em
macacos passou a provocar doença graves em seres humanos. A solução
passa por uma maior compreensão e monitoração da floresta. Vivemos junto
à florestas. Amamos estar lá. Precisamos compreendê-las melhor. Já o
Brasil tem feito um trabalho muito bom na redução de casos na Amazônia,
que já foram mais de 600 mil registrados em 1999 e hoje são 150 mil",
observa Claudio Ribeiro.
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