Casas particulares, uma maneira alternativa de se hospedar em Cuba.Moradores abrem suas residências a turistas, que economizam e ganham a chance de conhecer a ilha pelos olhos dos cubanos.
Zoe e Victor são químicos por formação, moram em Havana desde que nasceram e têm mais de 70 anos. Lay está grávida de seu segundo filho e vive no centro de Trinidad, cidade cubana tombada como Patrimônio Histórico da Humanidade desde 1998. Odalys mora com os pais e a irmã em Viñales, povoado rural com três ruas principais — lotadas de europeus. Todos são cubanos e vivem do turismo: há anos, abriram as portas de suas casas para receber visitantes.
As “casas particulares”, como são conhecidas, não são a única maneira de visitar o país, que sofre embargo econômico dos Estados Unidos há décadas. Mas definitivamente é a melhor delas. Muitos dos cubanos que alugam cômodos, como Zoe e Victor, oferecem muito mais que um teto: atuam praticamente como guias de turismo, dando dicas de roteiros e restaurantes, falam sobre as ciladas que os turistas costumam cair e dão uma “aula” de história e política.
— Existe uma lenda urbana muito comum por aqui: de que falta leite para as crianças. Alguns cubanos se aproveitam disso e pedem dinheiro para os turistas. Mas nenhuma criança de Cuba precisa de leite, é dever do governo dar um litro por dia a cada família com filhos pequenos — explica Victor, enquanto mostra a diferença entre as notas de pesos convertibles (CUC), a moeda para quem visita a cidade, e as de pesos cubanos.
— Os CUCs são muito parecidos, mas valem muito mais (o equivalente a US$ 1). Desavisado, o turista pode pagar em CUC e receber o troco em pesos cubanos. É preciso ficar de olho.
O casal, que vive em um bairro perto da Plaza de la Revolución, um pouco mais afastado da famosa Habana Vieja, no centro, reformou a casa confortável, de dois andares e com três quartos, depois que se aposentou. Sem filhos, mudaram toda a rotina: passam o dia às voltas com a compra de ingredientes para o café da manhã que é servido aos hóspedes — e custa em torno de 4 CUCs — com pães, ovos, muitas frutas e café com leite.
Quando não têm quartos vagos, eles também telefonam para outros cubanos que alugam cômodos para quem vem de fora e ajudam os visitantes a se ajeitarem em outro lugar. A oferta das casas particulares, aliás, é feita quase apenas no boca a boca. Como a internet não é o forte da ilha — uma hora de navegação em uma das poucas lan houses ou em hotéis mais caros sai por até 10 CUCs — o anúncio do aluguel de cômodos é feita pelo tradicional método dos cartões personalizados. Quem vai e gosta, repassa para os amigos, que acabam se hospedando nas casas melhor indicadas.
E o casal faz questão de guardar as lembranças dos visitantes: têm um álbum de foto com cada um dos que passaram por lá e ainda enviam a recordação por e-mail. Semanas depois, claro.
Caso parecido ao de Angela Lopez, que mora com a filha em Santa Clara, num casarão antigo, com cômodos com pé alto e móveis restaurados. Em qualquer outra cidade, o aluguel por uma noite num dos quartos da casa, um antigo hotel colonial na principal praça da cidade, não sairia por menos de US$ 100. Ela cobra 25 CUCs, para um quarto com duas camas e banheiro. E assim como Zoe e Victor, faz questão de ser muito mais que uma anfitriã. Além do café da manhã, tem vários mapas da cidade, famosa por guardar os restos mortais e o museu de Che Guevara, dá dicas de restaurantes e roteiros e ainda guarda, num caderno, textos de agradecimento dos hóspedes — em vários idiomas.
— Aqui vocês resolvem tudo em um dia. Saem de manhã bem cedo para ver o museu e a estátua do Che, depois podem dar uma volta pela cidade — diz Angela, sendo interrompida pela filha Elisabeth, que indica o melhor lugar para dançar à noite.
A experiência de visitar Cuba através das casas particulares tem ainda outra qualidade imprescindível: conhecer o país do ponto de vista dos próprios cubanos. A visão de Eloy, um marceneiro de Havana de quase 70 anos, com alguns dentes a menos na boca, por exemplo, é completamente diferente da de Lay, empresária e grávida de seu segundo filho, com a casa, em Trinidad, lotada de aparelhos eletrônicos.
— É seu último dia aqui, não é? E você tem dinheiro para pagar a hospedagem? Se não tiver, não tem problema. Quando eu for ao Brasil você pode me hospedar. Bem, eu não vou, mas você pode hospedar de graça meu amigo argentino que está morando aqui este mês — brinca Eloy. — Dinheiro não é tudo, não é?
SERVIÇO
HAVANA
Casa de Zoe e Victor: Diária para dois a 18 CUCs (cerca de R$ 46). Café da manhã individual a 4 CUCs. Avenida 20 de Mayo 426 (entre as calles Amenidad y Pedroso). Telefone (53) 7 8708809. zoeyvictor@gmail.com
Casa de Alba: 20 CUCs (casa com instalações completas). Calle 20 de Mayo 614, Cerro. Telefone (53) 7 878 7345. servante@enet.cu
Casa de Ania: Em Vedado, o bairro universitário. Telefone (53) 7 292 0610. anyvirgo@hotmail.com
Casa de Eloy: Calle Basarrate 251, entre calles Valle e Zapata. Telefone (53) 7 878 0485. s.hollowayhintzen@gmail.com
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VIÑALES
Casa de Reynaldo e Odalys: Diária a 25 CUCs (quarto de casal). Café da manhã individual a 5 CUCs e almoço a 7 CUCs. Telefone (53) 8 696 937. odalysvr@princesa.pri.sld.cu
SANTA CLARA
Casa de Angela: Diária a 25 CUCs (quarto de casal com banheiro), e café da manhã a 3 CUCs por pessoa.
Hostal colonial 1929. Informações: hostalcenter 1929@correodecuba.
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