sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Lazer diferente no Sul do país:

Dupla gaúcha inventa 'surfe a cavalo' e divulga a modalidade em vídeo; surfista segura corda presa a cavalo enquanto desliza em riacho.
Idealizadores exaltam relação entre o surfista e o gaúcho 'campeiro'.

 



A praia é substituída por um riacho. A onda dá lugar ao cavalo, montado por um gaúcho de bombachas. É assim que um bem-humorado vídeo apresenta uma nova modalidade de um esporte em alta no Brasil: o surfe a cavalo, ou "el surf criollo". A criação é de Lucas Arsego Zuch e Eduardo Linhares da Silva, ambos de 25 anos, amigos e proprietários do Surfari, empresa de comunicação voltada à cultura do surfe.

No "surf criollo", é preciso duas pessoas. Uma conduz um cavalo à beira de um riacho. A outra se segura a uma corda semelhante à usada no wakeboard enquanto "surfa" sobre a água, usando uma prancha de surfe. A dupla se reveza nas funções, e ambos demonstram habilidade ao subir direto na prancha, sem precisar se agachar. Além dos dois idealizadores, os amigos Ramon Giron, que cedeu o campo para a prática do esporte, e Felipe Poletto, o Pipo, também se arriscam na "sanga". Brincando, os sócios explicam que a ideia é mostrar uma relação que para muitos é inusitada: entre o surfista e o gaúcho "campeiro".

"São muitas coisas em comum, o fato de estarem sempre ligados à natureza, depender da natureza para se satisfazer, ter cavalo ou uma prancha, meios diferentes, mas com alguma coisa entre o mar ou a terra", conta Silva, que vê muitas diferenças entre o surfista gaúcho e o carioca, que segundo ele simboliza o esteriótipo do brasileiro que pratica o esporte. "Não somos ‘meninos do Rio’ cabeludos e bronzeados, somos mais batalhadores. Aqui faz frio e é longe da praia. As condições não são tão boas".

Apaixonados pelo surfe, tanto Zuch quanto Silva conhecem bem a lida do campo, comum no interior do estado. O primeiro tem familiares em Carazinho, no Norte do estado, enquanto o segundo é natural de Uruguaiana, na Fronteira Oeste gaúcha e a mais de 600 km de Porto Alegre. Foi ainda durante a adolescência na cidade fronteiriça, em 2004, que Zuch começou a inventar a nova modalidade.

"Pegamos uma prancha de sandboard, prendemos ao cavalo e filmamos. Foi o primeiro vídeo que eu editei. Nem tinha YouTube naquela época", conta.

Quando já era sócio da Surfari, Silva foi avisado pelo amigo Ramon Giron que uma enchente na cidade de Montenegro, no Vale do Caí, deu condições à prática que Eduardo inventara há uma década. Junto com o amigo, ele levou a prancha e os equipamentos para gravar o vídeo e divulgar na web.

"Fomos de sangue doce e acabou acontecendo. Era uma manhã de sol bem forte. Colocamos a ‘pilcha’ [indumentária típica do gaúcho] e saímos tocando o ‘criollo’. O cavalo andou muito bem, e a prancha andou legal. Na primeira tentativa, já vimos que era aquilo mesmo", conta Silva.

Com o objetivo de divulgar as particularidades do surfista gaúcho, a dupla inscreveu o vídeo de pouco menos de cinco minutos de duração no Mimpi, festival de filmes de surfe e skate realizado em Porto Alegre e no Rio de Janeiro com apoio da Surfari. "A ideia era inscrever não para ganhar, mas pelo menos para passar lá para o pessoal ver, mesmo. Participamos da organização para apoiar, e não para a competição. E passaram em horário nobre, logo antes da premiação", conta.

Zuch se diverte ao lembrar a incredulidade dos espectadores, em sua maioria cariocas. "Eles não estavam entendendo o que estava acontecendo. Era um misto de surpresa e descrença", conta.

No vídeo, Silva se apresenta como "Taura Cura", e explica que o cavalo usado na prática é o crioulo, "porque é baixo, ligeiro e não cansa". Acostumado a trabalhar com a raça, o veterinário Fernando Paixão Lisboa garante que a prática não causa dano algum à saúde do animal. "É um cavalo muito rústico, e no serviço normal, de campo, faz vários tipos de esforço. É preparado para isso", afirma. "Seria a mesma força de laçar um boi", compara.

Ao ser contatado pelo G1, Lisboa comentou que, há algum tempo, havia visto vídeo de uma prática semelhante, "de uma gurizada lá de Uruguaiana". Possivelmente, era o ainda adolescente Eduardo Linhares da Silva, na brincadeira em que tudo começou.

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