Identificar um agressor de mulher não é tarefa simples. Em geral, este criminoso não tem características aparentes como a arma em punho de um assaltante. Em muitos casos, sequer possui antecedentes criminais. Então, como se prevenir?
O G1 ouviu especialistas e pessoas que lidam com o tema diariamente para traçar um perfil destes homens. Além disso, o modo como os agressores se comportam é parte fundamental para a identificação. Muitas vezes são os chamados "cidadãos comuns".
De acordo com delegada Fernanda Fernandes, que atua diariamente no combate a este tipo de crime na Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense "até as pessoas que convivem com o agressor não acreditam que ele tenha praticado esse tipo de delito”.
”A gente tem como padrão de agressor de violência doméstica uma pessoa que trabalha, tem uma vida social, é primário e de bons antecedentes. Na maioria dos casos, a gente tem esse padrão de agressor de uma ‘pessoa normal’.
Em 2018, mais de 31 mil casos foram registrados nas Delegacias de Atendimento à Mulher em todo o estado.
Paulo Cesar Conceição, de 46 anos, coordena um centro de recuperação de homens condenados pela Justiça por violência doméstica. Ao G1, ele afirmou que a violência doméstica está impregnada na sociedade e quase não é percebida.
“Ele [o agressor] é o ‘cidadão comum’, é o motorista de ônibus, o empresário, o lojista, o religioso. A violência doméstica está impregnada na nossa sociedade de tal forma que ela está invisível”, disse.
O psicólogo Paulo Patrocínio ressaltou que a violência se apresenta de formas diferentes e não apenas através da forma física, que é de conhecimento mais comum. São elas:
Violência física
Violência psicológica
Violência patrimonial
Violência moral
Violência sexual
Ciclo da violência
Patrocínio explicou ainda que a violência contra a mulher acontece através de um ciclo vicioso, normalmente. Segundo ele, os relacionamentos passam por três etapas que se repetem constantemente. E a violência pode ser interrompida de duas maneiras: com a interrupção da relação ou com o feminicídio.
“O ciclo da violência começa na ‘tensão’. Quando um casal perde o diálogo, começam as humilhações, provocações e ofensas. Em determinado momento, essa tensão perde o controle e acontece a explosão, que acaba gerando a violência. Nesse segundo estágio, acontecem sexo forçado, tapas, socos. Logo depois, há um rompimento em alguns casos. A mulher vai buscar os direitos dela garantidos por lei”, explicou o psicólogo.
“No terceiro estágio, é o intervalo chamado ‘lua de mel’. O homem entende que perdeu a mulher e tenta reconquistá-la. Pede desculpa, faz juras de amor, dá presentes, faz promessas, em uma intensidade muito grande. Ele não quer dar tempo para que ela possa refletir sobre o assunto. Depois de juntos novamente, ele não se vê correspondido e volta a entrar no estágio da tensão”, completou.
De acordo com os especialistas, casais que passaram por episódios de violência compartilharam de um relacionamento abusivo. A vítima, na maioria dos casos, só identificou as “irregularidades” do relacionamento depois em que as agressões aconteceram.
Para evitar episódios de desgaste emocional e até mesmo de violência física, o especialista Paulo Cesar Conceição listou cinco pontos de atitudes abusivas nos relacionamentos (veja lista abaixo). Caso a mulher identifique a presença de um ou mais fatores, deve ficar alerta.
Cinco comportamentos que identificam um possível agressor
Interferir no modo de vestir da companheira;
Hábito de controlar as redes sociais dela;
Humilha e tem costume de xingar a companheira;
Possessividade, ele determina sempre o que o casal vai fazer;
Interfere nas relações sociais.
Serviço:
Para denunciar abusos e agressões contra mulheres, qualquer cidadão pode entrar em contato com a Central de Atendimento ao Cidadão pelos telefones 2334-8823/ 2234-8835, ou pelo Disque Denúncia pelo telefone 2253-1177.
A pessoa também pode procurar a Delegacia de Atendimento à Mulher mais próxima e também pode pedir ajuda na Defensoria Pública ou pelo site do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Fonte G1
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