Epicentro do trekking e da escalada na Região Sudeste, o Parque Nacional do Itatiaia carrega consigo uma aura de pioneirismo quando se fala em esportes ao ar livre no Brasil. Primeira unidade de conservação permanente do País, criada em 1937, o Itatiaia reúne alguns dos pontos mais altos da Serra da Mantiqueira, bem na divisa entre Rio de Janeiro e Minas Gerais. Concentra três das dez montanhas mais altas do Brasil e, por conta disso, é uma espécie de playground de montanhistas e amantes da caminhada.
O cenário é inusitado, não se parece com quase nada que temos no Brasil. Campos de mato alto e seco, intercalados com rochas de tamanhos variados e cercado por proeminentes picos de granito. Não apenas isso, mas também oferece boa infraestrutura, como área de camping, com banheiros e chuveiros. Além disso, oferecem um dos únicos albergues de montanha do Brasil, o Abrigo Rebouças, a 2.350 metros de altitude. Com 20 camas e paredes de pedra, é uma alternativa para quem não quiser ou não puder acampar.
O Parque Nacional do Itatiaia tem caminhadas para esportistas de todos os níveis, dos mais amadores aos mais experientes. Nos mais de 120 quilômetros quadrados do parque não são mais autorizados acampamentos selvagens nem travessias de vários dias. Entre as duas mais célebres montanhas, o Pico das Prateleiras e o Pico das Agulhas Negras, com 2.790 metros de altitude. Ao longo de um dia inteiro de contemplação e superação os visitantes podem ter uma experiência muito completa.
O básico antes de ir: onde ficar, quanto custa e regras do parque
Antes de mais nada é preciso decidir se você irá pernoitar na montanha ou dormir numa pousadinha e madrugar para entrar cedo no parque. O melhor jeito é chegar por lá de carro. Há hospedagens na parte baixa, perto do município de Itatiaia, mas saiba que é preciso chegar muito cedo na portaria do parque porque há limites de visitantes por dia em cada pico. Caso decida dormir no Abrigo Rebouças é preciso reservar pelo site do Parque Nacional ou por e-mail. Opernoite custa R$ 30 no abrigo ou R$ 18 no camping, além dos R$ 16 de entrada no parque para brasileiros residentes.
É possível chegar até o Abrigo Rebouças de carro, após pagar as taxas de entrada. Se não tiver um guia, é preciso contratar um por cerca de R$ 100 por grupo – há uma lista de profissionais credenciados no site do parque, na opção “Condutores de Visitantes”. É essencial ter um guia: ainda que o percurso possa parecer óbvio, é muito fácil se perder no parque. Além disso, eles auxiliam nos poucos trechos em que é necessário o uso de cordas, onde erros podem custar muito caro. Acredite, no Itatiaia guia não é custo, é investimento.
Há muitos trechos verticais em que pessoas com vertigem certamente ficarão desconfortáveis.
Será que essa montanha é para você?
Se você não está acostumado a fazer trilhas longas não é recomendável que comece a descobrir o Itatiaia pelo Pico das Agulhas Negras. No parque há rotas mais simples, como a Pedra do Altar e a Cacheira do Aiuruoca, com menor grau de exigência física e emocional. O Pico das Agulhas Negras é um maciço de granito com trechos muito íngremes, onde se usa muito as mãos – a chamada “escalaminhada” – mas não é preciso dominar técnicas de escalada ou ter experiência anterior em rocha. Dá para dizer que é bem instintivo e que os guias ajudam bastante no processo.
Se você sofre de vertigem não vá – você vai dar trabalho para o guia e para o grupo. Por muitas vezes fica-se diante de quedas livres que podem significar ferimentos graves. Para não se machucar, é preciso ser prudente e estar bem mentalmente. Fisicamente é uma jornada de alta intensidade, que costuma se estender por entre 6 e 9 horas, saindo e retornando até o Abrigo Rebouças.
Estar bem equipado, com itens de boa qualidade é vital nos trechos mais sérios do percurso.
Levar os equipamentos corretos
Seu equipamento é fundamental na montanha. É o tipo de ambiente que testa a qualidade de tudo. Vá com um calçado com o qual esteja muito acostumado a caminhar – lembre-se, caminhada é uma atividade física diferente de corrida. A recomendação é uma bota de caminhada laceada e de cano alto, para evitar torções. Jamais cogite estrear calçado na montanha. Além das bolhas quase certas, você pode comprometer o grupo todo a ter de diminuir o ritmo ou desistir do programa por sua conta.
Nas costas, uma boa mochila de ataque de até 30 litros, de preferência com barrigueira. Nela tenha filtro solar, chapéu, câmera ou celular e um casaco corta-vento. Mesmo nos dias ensolarados venta muito, machuca a pele e pode provocar hipotermia. Ah, tenha pelo menos um litro de água por pessoa e um ou dois sanduíches, além de biscoitos e frutas secas para comer ao longo do dia.
Tenha paciência e persistência, sem pressa você chega tranquilo ao cume das Agulhas Negras.
Como chegar
Como esta é uma viagem geralmente feita aos fins de semana, para considerar seu tempo na montanha é preciso levar em conta o tempo total da viagem desde a sua casa. O Parque Nacional do Itatiaia está localizado a 2h30 da Cidade do Rio de Janeiro ou a 3 horas de São Paulo pela Via Dutra, pela saída 318, em Engenheiro Passos, depois mais 12 quilômetros até Itatiaia. Em seguida, siga pela BR-354 Rio-Caxambu por outros 26 quilômetros até a Garganta do Registro. Dali até a entrada da parta alta do parque, o Posto Marcão (ou Posto 3) são 14 quilômetros em estrada de terra. Há um estacionamento neste ponto.
Depois, mais 3 quilômetros sobre pedras em péssimas condições até o camping e o Abrigo Rebouças – claro que dá pra ir caminhando, mas conte aí mais 6 quilômetros no total percorrido. Caso pare o carro neste ultimo estacionamento, serão “apenas” cinco quilômetros de caminhada até o cume, mas estamos falando de um percurso de cinco horas para ir e voltar. É super técnico e vertical. Como o parque nacional abre cedo (7 horas), vale madrugar mesmo, não apenas para se garantir no grupo máximo de pessoas por dia mas para retornar do pico em segurança e ainda com o dia claro.
No alto das Agulhas Negra há um caderno dentro de uma caixa, o livro de cume, onde quem chega pode assinar.
Cuidado consigo e com o grupo
A pressa é inimiga da felicidade durante um trekking. O cronograma acima não é à toa, mas para dar tempo de caminhar com calma. Ou melhor, lentamente. Bem devagarzinho e com cuidado, assim é o ritmo da montanha. Quem sai cedo tem tempo de ir e voltar com segurança, andando constantemente, mas numa cadência leve.
Existem pedras soltas, fáceis de tropeçar e torcer o pé. Além disso, poupar energia é tudo na montanha. Apesar de não ser uma Cordilheira dos Andes, a Serra da Mantiqueira oferece picos com mais de 2 mil metros e é possível sentir, ainda que suavemente, os efeitos da altitude e do ar rarefeito já nesse ponto.
Como não há carro que possa buscá-lo na trilha, tudo dependerá de você. Portanto, cuide bem do seu corpo. Coma bem e hidrate-se regularmente ao longo de todo o dia. De hora em hora ou quando se sentir cansado, faça paradas rápidas.
Você nunca mais vai se esquecer do Itatiaia e das Agulhas Negras.
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