sexta-feira, 17 de abril de 2015

Dica dos feriadões Bahia ou São Paulo? Restaurantes nas duas cidades entram na onda do fumeiro




Especialistas do blog do Estadão traçam um roteiro interessante para quem quiser aproveitar e ser diferente nas escolhas gastronômicas.

Quando Caco Marinho foi convidado por Edinho Engel para acompanhá-lo no 8º Paladar Cozinha do Brasil, pediu para mostrar a carne de fumeiro aos paulistas. A ideia era ele, Edinho e Fabrício Lemos, do Al Mare, falarem sobre carnes secas da Bahia. Caco escolheu o fumeiro. “De modo geral a gente aqui não se debruça sobre os ingredientes locais”, disse. E ele quis mudar isso. Pegou o carro, chamou um amigo fotógrafo e rumou para Maragogipe para conhecer os produtores das carnes que ele já comia na capital.

Lá, conheceu Simone Assis, presidente da Associação de Produtores de Carne de Fumeiro, e ciceroneado por ela foi a alguns dos poucos produtores que ainda insistiam em manter a produção, mesmo sob o risco de ver toda a mercadoria apreendida. Gente como Valfredinho e seu filho Traquino, o, Trac, Valdo Perninha, Anselmo, entre outros. Saiu da cidade barrunfado (expressão baiana que quer dizer cheirando a fumaça) e decidido a manter e atualizar a tradição. Registrou o processo e partiu para Salvador. “Retornei com esse material em mãos e enxerguei naquilo uma grande oportunidade de manutenção daquela tradição”.

Maragogipe e região consomem três toneladas de porco por semana. “Lá se aproveita tudo do porco: fazem o fumeiro, as linguiças, vendem o pernil na feira, as vísceras para o sarapatel e o que sobra defumam para feijoada”, diz o chef.

Apesar de encantado pelo produto, a carne era salgada demais para os pratos que imaginava preparar. Se lavasse, perderia parte do gosto da defumação, mas daquele jeito, estaria limitado a cozidos para equilibrar o sal (“não tem carne melhor para por numa feijoada ou cozido”, diz). Procurou Simone e pediu uma redução na quantidade de sal e tempo de salga e foi com essa carne que desembarcou em São Paulo para a aula no Paladar Cozinha do Brasil.

Normalmente, a salga é feita com uma parte de sal para duas de carne, depois a peça é banhada em bacias por mais uma hora e só assim segue para o fumaceiro por até cinco horas. “A minha, Simone faz com meia hora de salmoura e de lá direto para o moquém. A técnica tradicional vislumbrava a conservação da época que nem geladeira existia”, diz. É ela que às vezes ele serve em seu restaunte, com mel de uruçu, farofa d’agua e vinagrete de biribiri.

Como o fumeiro chegou a restaurantes em São Paulo

“Animal”, empolgou-se André Mifano ao ver as chouriças e o pedaço de mantinha vindo de Maragogipe, encomendado pelo Paladar. Pediu uma faca, tirou um naco da carne e comeu como estava – a defumação a mais de 70º faz a carne assar lentamente. Falava da peça com mais admiração do que a expressão mostrava.

Jefferson Rueda fez o alerta. “Dei aqui para um cara do nordeste comer e ele não aguentou. Tem muito sal. Se eu lavar, vai perder o defumado. Assim é difícil usar”, disse emendando em seguida uma série de perguntas sobre a quantidade de sal por quilo de carne.

Sanduíche aberto. Jefferson Rueda fez o fumeiro com tartare de beterraba e picles

Carne de fumeiro data de épocas em que geladeira não era comum e as carnes precisavam ser salgadas para ser conservadas. Seguindo a tradição, os produtores repetem a mesma proporção: um quilo de sal para dois quilos de carne.
Desafiados a conhecer – e usar – o fumeiro de Maragogipe, os chefs aceitaram preparar pratos com ele. Mas, de cara, Jefferson Rueda, experiente em cura de porco, achou a quantidade de sal exagerada. Nem tentou utilizar a tradicional. Sugeriu a proporção de 100 gramas de sal para cada litro de água usada na salmoura em que a carne descansaria.

Paladar deu o recado a Simone, que recebeu as instruções por telefone. “Aqui a gente faz assim porque nossa comida é diferente, né? A gente coloca no feijão, faz um escondidinho, a comida de restaurante aí de São Paulo é mais, assim, sofisticada”, disse. “Vou fazer como faço para Caco”, disse. O chef baiano também pede menos sal na carne que encomenda.

Chã. André Mifano serviu o fumeiro com, feijao caupi, ovo e picles

Paladar recebeu a nova remessa de carne, menos arisca no sal, mas com as características tradicionais. Rueda fez um sanduíche aberto com relish de beterraba e Mifano grelhou nacos que serviu com feijão caupi e picles de mini chuchu e cenoura.


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