Rede de moda adiantou data de promoções coletivas do fim de novembro para esta semana de outubro; especialista diz que efeito de mudança nas vendas é limitado. Animale decidiu fazer mais cedo as promoções coletivas da Black Friday, que tradicionalmente ocorrem na última sexta-feira de novembro.
Outras grandes varejistas também chegaram a discutir essa possibilidade neste ano, mas os planos não foram para frente. Na época, o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) defendeu a permanência da data em novembro, alegando que ela já era conhecida pelo consumidor brasileiro.
A estratégia busca distanciar a Black Friday do Natal e, assim, não comprometer as vendas (e as margens de lucro) do fim do ano com compras antecipadas.
Mas a Animale diz que tem ainda outro motivo para fazer a mudança. É que na segunda quinzena de novembro, ela lança uma minicoleção de festas e, no fim do mês, outra de peças para o Réveillon.
"Meter uma comunicação de promoção no meio fica confuso para o cliente", justifica Rodrigo Sanchez, diretor da empresa.
Por isso, as 70 lojas próprias e o site da marca começaram nesta quarta-feira (18) a oferecer descontos de até 50% em todos os seus produtos. As ofertas vão até domingo (22) e foram batizadas de "Black October".
Na Black Friday original, que neste ano cai em 24 de novembro, quando boa parte do varejo deverá lançar promoções, a Animale fará uma liquidação tímida. A oferta será de apenas um dia e só no e-commerce. Em 2016, a promoção durou quatro dias no ambiente físico e digital e gerou receitas de R$ 11,7 milhões.
Nas contas de Sanchez, sem a Black Friday, as vendas de novembro devem cair 11% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em compensação, as de outubro devem crescer 15%.
Além disso, ele acredita que os números de dezembro devem superar em 15% os do mesmo mês de 2016 – 7% devido à antecipação da Black Friday.
"Quando você puxa isso para outubro, dá tempo de voltar a aquecer o desejo de consumo até dezembro, diz o diretor.
"A aposta é de que não vamos perder R$ 1 em relação à Black Friday do ano passado."
De acordo com ele, perto das 13h do primeiro dia da promoção em outubro, a marca estava perto de bater sua maior marca de vendas diária, que é de R$ 1,2 milhão. "Acho que vamos duplicar o recorde", anima-se.
Efeito limitado
Para Claudio Felisoni, do Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (FIA), mudar a data pode trazer algum resultado, mas ele não deve ser significativo.
"Isso só desloca o tempo de venda. É claro que pode ter algum impacto por questões circunstanciais, a compra por impulso existe. Mas o que determina o volume total é o tamanho do bolso, que não muda", afirma. "É uma variável física, você não consegue colocar numa garrafa de um litro mais que um litro", emenda.
Ele ressalta que o que define o poder de compra (ou o tamanho do bolso) do consumidor é a renda, o comprometimento com dívidas anteriores e a confiança no nível de emprego.
Na análise do professor, a Black Friday não incomoda as varejistas nos Estados Unidos justamente por conta do "tamanho de bolso" dos americanos.
"Lá as ofertas em novembro também tiram as vendas do Natal. Mas menos. É uma economia muito mais densa, o bolso deles é muito maior que o nosso".
De acordo com ele, no período das festas, as vendas do varejo brasileiro costumam ficar 30% a 40% acima da média do restante do ano.
Procurado, o IDV disse que não há discussões para alterar a data no ano que vem e reencaminhou posicionamento antigo em que defende que a data é internacional, "com forte adesão do mercado brasileiro" e que "de nada adiantará mudá-la, pois muitas empresas continuarão a realizar promoções nesta época".
O Instituto também destaca que cada empresa é livre para estabelecer seu planejamento e realizar promoções quando preferir.
A Black Friday, que já é a principal data do varejo americano desde o início dos anos 2000, chegou mais tarde no Brasil. O evento ocorreu de forma organizada pela primeira vez no país em 2010, em versão exclusiva para o e-commerce. Os pioneiros contam que um dos motivos para o evento demorar a pegar no Brasil foi justamente a resistência dos varejistas em lançar promoções antes do Natal.
E se der certo?
O grupo Soma, dono da Animale e de outras marcas como FARM, Fábula, FYI e A.Brand, não é membro do IDV.
Segundo Rodrigo Sanchez, que além da Animale também dirige a A.Brand, caso a experiência de antecipar a Black Friday seja bem-sucedida neste ano, outras empresas do grupo do podem aderir à ideia em 2018. Ele acredita ainda que varejistas concorrentes podem fazer o mesmo movimento.
A Animale vende cerca de 800 mil peças por ano em suas 70 lojas físicas e em 574 pontos de venda de 19 estados do país. Seu faturamento anual é de cerca de R$ 550 milhões.
Fonte G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário