Ideia foi de verador que o prefeito Marcelo Crivella deixou rolar e por isso foi aprovada automaticamente. Infectologistas chamam atenção para o problema causado pelas fezes e urina dos cães. Se não bastasse a sujeira natural como as feitas por pombos, altamente infectante, e lixo, o carioca vai ser incomado por mais essa decisão.
Os cachorros estão liberados para circular pela areia da praia. A autorização é concedida através de lei de autoria do vereador Luiz Carlos Ramos Filho que será publicada nesta quarta-feira no Diário da Câmara Municipal (DCM) do Rio. O prazo para a sanção de Marcelo Crivella terminou no último dia 20 e, como ele não se posicionou, a lei teve sanção tácita — quando passa a valer sem a manifestação do prefeito.
— A promulgação desta lei é uma grande vitória da causa animal. Agora vamos batalhar para que a prefeitura regulamente o mais rapidamente possível — afirmou o vereador.
O texto libera "a circulação e a permanência de cães nas areias de todas as praias do Município do Rio de Janeiro". Para isso, o responsável pelo animal deverá portar certificado de vacinação, ou cópia física ou digital, que contenha etiqueta semestral de vermifugação porque ele poderá ser cobrado por agente da prefeitura.
O animal deverá estar na coleira, e o responsável por ele tem que recolher os dejetos do cão. "Haverá obrigação de reparar o dano quando, na ocorrência de ato ilícito, a presença temporária ou permanente de cães implicar risco para os direitos de outrem", prevê o texto.
A lei também abre a possibilidade de a prefeitura "delimitar faixas de areia nas praias para permanência e circulação de cães". Nesse caso, também poderia aplicar multa ao responsável que desrespeitar essa regra. No entanto, a Prefeitura do Rio não criou essa delimitação.
— Eu sugiro que seja feito um plano piloto. Poderíamos começar com um espaço na praia de Copacabana, por exemplo, para testar. Tenho certeza de que a população vai respeitar as regras e teremos menos incidentes nas praias. Vou pedir uma agenda com o prefeito para tratar da regulamentação da lei — diz Ramos filho.
O vereador lembra que, atualmente, os cães já frequentam as praias e que o projeto vem apenas ordenar o que já é uma prática.
— Hoje, os cães não são tratados como objetos. Fazem parte da família. Precisamos adaptar a legislação a esta nova realidade. Com um espaço só para eles, se todos respeitarem as regras, teremos um ambiente muito mais democrático e harmônico, onde cada um vai respeitar o direito do outro — diz o vereador.
Aprovação controversa
Para o professor de infectologia da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Edimilson Migowski, o cão é sim um poluente no contexto das praias, mas não é o principal culpado da história. Para ele, uma fiscalização eficiente pode fazer com que o projeto seja bem sucedido.
— O cão não é o principal problema das praias, se falarmos de coliformes fecais, parasitas etc. Mas ele é um contaminante adicional. O que eu vejo com preocupação é que a areia é muito fofa, e nem sempre você consegue recolher de forma efetiva as fezes do seu cão. Acho que tem que haver uma fiscalização adicional, bem feita. Na praia, diferente das ruas, é um pouco mais complicado para você localizar esses dejetos — afirma o especialista.
Ainda de acordo com Migowski, mesmo cães vacinados e vermifugados podem apresentar algum tipo de risco.
— Você não sabe a eficácia da vacina aplicada, não há segurança nisso. Então, fica complicado você confiar cegamente na vacina. Por isso, quando alguém sofre algum tipo de ataque ou incidente com animal, como cão ou gato, mesmo que vacinado, o médico não dispensa a vacinação.
A dermatologista Cibelli Tamietti, da Clínica Leger, acredita que a ida dos cãezinhos às praias pode acabar não sendo positiva nem para os frequentadores, nem para os bichinhos.
— A questão é que quando os cachorros fazem suas necessidades na areia, por mais que limpe, se as fezes do animal estiverem contaminadas, por exemplo, a infecção pode ficar na areia, e contaminar o pessoal que passar por ali. Até para os cachorros pode ser ruim: eles podem ficar desidratados, queimar as patinhas na areia quente, pode acabar comendo alguma sujeita deixada na areia e acabar tendo algum problema... Eu tenho animal, amo animais, e adoro vê-los correndo na areia, mas acho que no fim das contas, faria mais mal do que bem, tanto para a população que frequenta a praia, quanto para o animal. O xixi, por exemplo, é impossível de limpar — afirmou.
Contaminadores
No último boletim divulgado em maio deste ano pela prefeitura, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, um levantamento mostrou que 18 (75%) de 24 pontos analisados não eram recomendados porque apresentavam algum tipo de contaminação. Nos cinco primeiros meses deste ano, 67,5% (162) das 240 amostras de areia coletadas em 15 praias oceânicas não apresentaram bons resultados. A presença de cães e restos de comida foram apontados como as principais causas de contaminação em junho pela Secretaria municipal de Meio Ambiente.
Um levantamento do GLOBO, na ocasião, em junho, com base nos dez boletins divulgados este ano mostrou que as praias da Barra, próximo ao Quebra-Mar; de Copacabana, na altura da Rua República do Peru; e de Ipanema; perto da Rua Maria Quitéria, apareceram como “não recomendadas” 100% das vezes. Isso significa que a taxa de coliformes totais estava acima de 30 mil NMP (número mais provável) por 100 gramas de areia, e que a presença da bactéria Escherichia coli , responsável por infecções, era superior a 3.800 NMP/100g.
Fonte Extra/Qsacada
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