segunda-feira, 27 de março de 2017

Cariocas estão aderindo mais aos mercados produtores.

 
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                 Cadeg

A procura por um lugar melhor para comprar o alimento faz com que cariocas, e até mesmo quem não é do Rio, procure opções melhores entre o novo e o já conhecido. Abertura do Mercado de Produtores, na Barra da Tijuca, inspira um passeio pelo Cadeg, a Cobal do Humaitá e o Mercado São Pedro, em Niterói. Veja essa matéria que o Globo preparou e nós estamos reporduzindo.

O paladar e o olfato são os sentidos que mais aguçam a memória. A fragrância de um buquê de flores ou o sabor de um simples peixe grelhado podem trazer à tona momentos e lembranças de toda uma vida: um almoço de família num domingo primaveril da infância; uma viagem de férias a um país longínquo; saudade de amigos e tempos que não voltam mais. Para Marcel Proust, bastou mergulhar uma inocente madeleine numa xícara de chá para atiçar a memória involuntária que abriria caminho para “Em busca do tempo perdido”, umas das maiores empreitadas literárias da História.

São esses aromas e gostos nostálgicos que são despertados em quem visita os grandes mercados do Rio, como o recém-inaugurado Mercado de Produtores, na Barra. Situado num dos 12 blocos do Uptown, um galpão de pé-direito elevadíssimo dividido em dois andares, o projeto, inspirado pela tradicional Boqueria, em Barcelona, e pelo Mercado da Ribeira, em Lisboa, oferece, num espaço amplo e arejado, de 6.500m², dezenas de opções gastronômicas, da feira de hortifrutigranjeiros e das peixarias a restaurantes, bares e cozinhas de diversas origens. É para comprar e levar para casa ou degustar por lá mesmo, em simpáticos mesões comunitários.

A iniciativa nasceu de uma recordação afetiva do empresário Schalom Grimberg.

— Meu avô, David Korn, um polonês que veio para o Brasil antes da Segunda Guerra, trabalhou na Saara, foi um dos pioneiros daquela região do Centro. Quando era criança, eu o ajudava. Daí pensei a voltar a esse tipo de comércio — conta Grimberg. — Mas não somos Cadeg ou Saara. Temos a Delta Mare, do Mercado de São Pedro, e a Parrilla del Mercado, da Cadeg. Somos um apanhado de comerciantes desses bons polos, mas em outro ponto da cidade, com um padrão internacional. Da Ceasa, veio o pessoal do hortifruti, com qualidade e preço imbatíveis.

Um dos primeiros a embarcar no investimento foi o La Plancha, tradicional restaurante de frutos do mar que passou 21 anos no mercado de peixes da Barra, de onde saiu em junho de 2015.

— É um novo local, com equipe e sócios novos, mas traz a mesma excelência e o mesmo cardápio do antigo. O negócio passou de pai para filho — explica o chef Luis Andres González Barcia Júnior, sócio e filho de Luis Andres González Barcia, espanhol nascido na Galícia que fundou a casa.

Dos cultuados pratos da cozinha de Júnior destacam-se a lagosta grelhada (R$ 205, a inteira, para duas pessoas) a parrillada de frutos do mar (R$ 360, inteira, de quatro a seis pessoas) e a paella (R$ 192, para quatro pessoas).

Se o La Plancha segue um legado de família, o que inspirou o boteco Choppempé foi a saudade de casa.

— A ideia do bar surgiu de um costume carioca, que é tomar chope em pé, apoiando a cerveja em qualquer lugar, num barril, numa cadeira, com a união do tradicional sanduíche de mortadela do Mercado Municipal de São Paulo — explica o paulistano Thiago Salomão, que se orgulha da simplicidade do seu cardápio. — Temos os clássicos: sanduíche de mortadela (R$ 19,90) e de mortadela com queijo (21,90). E o chope sai a R$ 6.

Passando pelo amplo corredor, entre opções de cervejas artesanais, vinhos, culinária árabe, peruana e o já famoso Açougue Vegano (onde o carro-chefe é a coxinha de jaca), chega-se à barraca do Produtos D.O.C, onde brilha o queijo tulha (R$ 180, o quilo), cujo pedaço provoca uma explosão de sensações na boca de quem o prova.

— O queijo tulha, que é produzido em Amparo, no interior de São Paulo, leva esse nome porque ele matura por mais de um ano dentro de uma tulha de café. Por isso sua casca é mais escura, com uma massa crocante, com cristais de sal, muito sabor e umami — conta André Deolindo, apelidado de Cheese Hunter (caçador de queijos). — Quando trabalhei com a chef Flávia Quaresma, passei a viajar, investigar, conhecer os produtores. Minha vida agora é só queijo: viajar, me meter em atoleiro e trazer o carro arriado de queijo — brinca Deolindo, que se define apenas como um “apaixonado pela roça e pelo queijo”.

Outras celebradas denominações de origem encontradas na D.O.C são as mineiras da Canastra (R$ 80, a peça) e do Serro (de R$ 60 a R$ 70).

— Hoje vivemos uma revolução do queijo, graças à Estância Capim Canastra, que levou o segundo lugar no Mondial du Fromage (uma espécie de Copa do Mundo do queijo), na França, em 2015, na categoria leite cru/massa prensada. Agora já são quase 800 produtores na Serra da Canastra — ensina Deolindo, que não esconde seu entusiasmo pelo laticínio.

Outro entusiasta, mas dos destilados, é Adriano Amata, sócio da Drinkeria Sauer.

— É um espaço para o público brindar. E é um privilégio estar do lado de um hortifruti, sempre com frutas frescas — exalta Amata, cuja carta vai dos clássicos (o Cosmopolitan sai a R$ 21) até drinques como o Amata Especial (Campari, vermute e champanhe, a R$ 24).

SERVIÇO

Mercado de Produtores: Uptown Barra. Av. Ayrton Senna 5.500, Barra — 2247-7000. Seg a sáb, das 9h às 21h. Dom, das 14h às 21h.

Evento: De sexta a domingo (24 a 26.3), há show da Banda do Mercado, às 18h. Sábado e domingo (25 e 26.3), a partir das 13h, tem bate-papo com chefs, degustações, oficina de horta (sábado, às 17h) e aulas (de éclair, domingo, às 14h30m). Tudo de graça.

Bebidas: Antuérpia Chope Artesanal, Cervejaria Tio Ruy, Chopperia RJ e Champanheria são algumas das opções.

Prato cheio: La Plancha, La Parrilla del Mercado e Benkei marcam presença no mercado.

Delicinhas: geleias, chutneys e compotas estão em lojas como Doces Mariana, Delícias da Serra e Arte em Conserva.

Abertura do Mercado de Produtores, na Barra, inspira um passeio pelo Cadeg, a Cobal do Humaitá e o Mercado São Pedro, em Niterói

Cobal do Humaitá

Localizada entre a Rua Voluntários da Pátria e a Rua Humaitá, a Cobal do Humaitá foi inaugurada em 1971. Com supermercado, lanchonetes, lojas, bares, restaurantes, floriculturas e boxes de produtos agrícolas e orgânicos, o antigo hortomercado de 10.000 m², apesar de não viver seus melhores dias, vide o grande número de boxes fechados, ainda traz variedade de produtos e é bastante movimentado mesmo durante a semana.

Ali estão casas como Manekineko, Pizza Park, Puebla Café e Joaquina — que, à noite, espalham mesas pelo estacionamento e garantem o movimento até altas horas —, lojas de vinho, de doces, o supermercado Farinha Pura e dezenas de outras opções, até loja de decoração. Um dos pontos mais tradicionais no local é a Coapi Mel.

— Hoje trabalhamos com oito tipos de mel. Tínhamos mais fartura, mas a produção caiu — conta Maria Nuzarina, de 58 anos, mais de 30 deles dedicados à barraquinha da Cobal. — O de laranjeira, que é mais suave e se adapta muito bem ao paladar infantil, é o que mais sai. E o silvestre é o mais tradicional.

Saindo do Humaitá, mas ainda no coração da Zona Sul, a situação da Cobal do Leblon não é nada boa. Segundo a superintendência regional da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que administra a Cobal, menos da metade das 25 lojas e 83 boxes do local seguem funcionando, mas, para quem visita, parece menos.

Cobal do Humaitá. Rua Voluntários da Pátria 446, Humaitá — 2537-0186. Diariamente, das 8h às 23h.

Cadeg

O Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara, mais conhecido como Cadeg, em Benfica, na Zona Norte, é um tradicional polo de atacado e varejo de flores, verduras, legumes, peixes, carnes, temperos e bebidas. Aos sábados, tem uma concorrida festa portuguesa no Beco das Concertinas, regada a música ao vivo, bolinhos de bacalhau, sardinha na brasa e cerveja.

Conhecido e celebrado como mercadão popular, o Cadeg começou a ganhar ares gourmet a partir dos anos 2010, quando restaurantes com um perfil um pouco mais sofisticado, como o Barsa, abriram as portas por ali.

— Eu conheci o mercado de madrugada, quando vinha visitar os produtores. Me incomodava essa coisa de só funcionar de madrugada. E percebi que aqui a culinária era uma coisa mais funcional, de refeições rápidas — conta Marcelo Barcellos, dono do Barsa.

Do sucesso da casa, que traz pratos como o bacalhau rei (R$ 179, inteiro) e o arroz de pato ao Barsa (R$ 275, grande), surgiram outros restaurantes, como o Costelão e o Ex-Touro, seus vizinhos de Rua 4.

Ao lado do Barsa fica a Grife dos Vinhos.

— Trabalhamos com cerca de 950 rótulos de 15 países diferentes. O preço de nossas garrafas vai de R$ 25 a R$ 12,5 mil, que é o valor do Barca Velha 1964 — diz Davidson Mariano, filho de Raimundo Nonato, o Ceará.

Pelos democráticos corredores do mercado, mesas de restaurantes ficam lado a lado com barracas de legumes e frutas, e fazer compras é parte do programa.

Amanhã, a partir do meio-dia, o Cadeg realiza a 3ª edição do “Samba com dendê” (ver na seção Shows), com roda da cantora Lizza Dias.

Cadeg. Rua Capitão Félix 110, Benfica — 3890-0202. Feira dos produtores: seg a sáb, das 3h às 12h. Restaurantes: diariamente, das 11h às 16h.

Mercado São Pedro

O Mercado São Pedro, em Niterói, comercializa mais de dez toneladas de peixe por dia: é “o” lugar para comprar pescados. Com 40 boxes de peixarias e oito bares e restaurantes no andar superior, a entrada do prédio apresenta uma imagem de São Pedro, padroeiro dos pescadores, e carrega com orgulho uma placa que afirma: “Eleito por voto popular uma das sete maravilhas de Niterói”.

— Trabalhar com peixe é prático, não precisa de muita instrução. Estou aqui há 25 anos. Enquanto Deus me der força, eu venho trabalhar — diz o italiano Mario Bruno, de 83 anos, radicado no Brasil desde 1951.

Apesar de Bruno seguir cheio de energia, a rotina dos trabalhadores é dura.

— Levanto às 4h todo dia — conta Joselito Silva, de 29 anos, desde os 12 como peixeiro. — Agora, época de liberação da pesca da sardinha, o filé está saindo bastante (R$ 12, o quilo).

O peixe fresco abastece os restaurantes do mercado, como o Bom Peixe (filé do dia frito sai a R$ 68) e o Bar do Wágner, ex-goleiro do Botafogo (R$ 5, a unidade do pastel de camarão). Às vezes, dá para comprar o pescado na barraca e levar para ser preparado no restaurante.

Mercado São Pedro. Av. Visconde do Rio Branco 55, Niterói — 2719-2600. Seg a qua, de 6h às 15h.

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