Essa´não é uma onda nova no mundo, mas está se tornando um hábito em São Paulo e na capital carioca, com gente interessada em saber de locais "assustadores". O Portal G1 fez uma boa matéria para o Dia das Bruxas, que estamos reproduzindo aqui. Você sabia que o Arco do Teles, na Praça Quinze, transformado hoje em Pólo Gastronômico, já foi lugar de prostitutas e onde viveu uma delas que era violenta?
Crianças atrás de doces, fantasias de monstros, zumbis e vampiros, e maquiagens sangrentas costumam rondar o dia 31 de outubro, principalmente em países de cultura inglesa. Mas há lugares do Rio em que o clima do Dia das Bruxas – ou Halloween – se faz misteriosamente presente o ano inteiro e vai além das brincadeiras. O G1 foi atrás desses causos de assombração que, verdade ou não, já fazem parte da cidade.
Palácio da UFRJ: resquícios de um antigo hospício
Um dos casos é o do Palácio Universitário, parte principal do campus da UFRJ da Praia Vermelha, na Zona Sul do Rio.
“Tenho muito medo de ficar aqui à noite sozinha”, assume a auxiliar de serviços gerais Jéssica Cristina. “Já ouviram barulho de tambor, passos. Já viram uma noiva. Eu mesma nunca vi nada, mas já vi vultos.”
O historiador e guia de turismo Milton Teixeira, que durante alguns anos realizou passeios em lugares popularmente conhecidos por abrigar fantasmas, confirma a fama, que é antiga. Lembra que, por mais de 100 anos, ali funcionava um hospício. “É um prédio onde havia pessoas que sofreram”, conta o professor.
De acordo com o "Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde", da Fiocruz, o Palácio Universitário é uma construção no estilo neoclássico, criada pelo engenheiro José Domingos Monteiro, que se inspirou no Hospital de Chareton, na França. A edificação se estendeu por cerca de dez anos, desde o decreto que criava o hospício, que data de 18 de julho de 1841.
Inaugurado em 8 de dezembro de 1852, o Hospício de Pedro II, como era chamado na época, começou suas atividades com 144 pacientes. Segundo a pesquisa da Fiocruz, nos primeiros meses de funcionamento do manicômio, muitos pacientes morreram por causa das condições insalubres do lugar, embora muitos já tenham chegado doentes à unidade.
Entre os pacientes alienados, esteve o escritor Lima Barreto, que relatou suas experiências em seu livro “Diários de hospício”.
O sanatório, que mais tarde se chamou Hospício Nacional de Alienados e Hospital Nacional de Alienados, passou por problemas de má administração e corrupção, ficando quase em ruínas em 1944, quando suas atividades foram encerradas. O edifício foi doado à Universidade do Brasil (atual UFRJ). Em 1949, o prédio foi restaurado.
Castelinho: a lenda de Maria de Lourdes
Outra construção que é popularmente apontada como assombrada é o Castelinho do Flamengo, também na Zona Sul do Rio. Atualmente, no prédio funciona o Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho.
“A gente já teve seguranças que dormiam aqui que falavam que ouviam barulhos, que não queriam dormir no segundo andar. Só queriam dormir no térreo porque ficava perto da porta”, revela Keyna Eleison, gerente de centros culturais da Prefeitura do Rio.
Para os que acreditam nas forças ocultas, o medo não é sem fundamento. Uma série de tragédias marca a história da família Feu Fernandes, a segunda a morar no Castelinho.
“A filha viu os pais serem atropelados aqui na Praia do Flamengo. Reza a lenda que por bonde, mas não temos certeza. Não temos registro de ocorrência, nenhuma foto, nem notícias”, explicou. “A Maria de Lourdes, que devia ter 10 anos de idade, foi tutorada pelo advogado da família, que não tinha vínculo nenhum com ela, nem com a família. Ele deixava ela presa na torre. E, um dia, ela se jogou.”
Projetado em 1916, o Castelinho do Flamengo reúne em uma única construção diferentes estilos arquitetônicos. O autor do projeto é o arquiteto italiano Gino Coppedè, que desenhou o local a pedido da família Silva Cardoso e Silva. Aos barulhos e rangeres escutados, Keyna atribui à edificação em madeira.
“A madeira contrai, dilata, com o tempo e com a chuva. Portas batem. Há ranger quando a gente sobe e desce as escadas. Temos uma madeira que está há cem anos nesta casa. A quem está mais suscetível ao susto, é possível que isso seja interpretado como assombração”, expõe.
É impossível dizer se há ou não um fantasma no Castelinho, mas Keyna garante: se há assombração no Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, ela é do bem. “Se esse lugar é assombrado, ele é muito bem assombrado. Os fantasmas que estão aqui estão de parabéns, porque esse lugar é muito bom. É um Centro Cultural cada vez mais vivo, cada vez mais se relacionando com o público. Vem muita gente aqui por conta da nossa programação”, brinca.
Arco do Teles: o mito de Bárbara dos Prazeres
Pouca gente sabe, mas registros históricos dão conta de que uma mulher, moradora do Arco do Teles, na Praça 15, no Centro, cometia atrocidades em busca da juventude eterna.
“No fim do século 18, aqui era um local de prostituição pesada. E aqui fazia ponto uma prostituta que atendia pelo nome Bárbara dos Prazeres. Ela nasceu em Portugal. Lá, ela já teria matado a irmã em uma crise de ciúmes”, conta o historiador e guia de turismo Milton Teixeira.
Casada, foi acusada de matar o marido e também o amante. Reza a lenda que ela buscava crianças para produzir uma espécie de elixir da juventude. “Em 1808, Dom João VI cria a Polícia do Rio de Janeiro. E justamente uma das primeiras diligências era contra ela, que era acusada de roubar crianças filhas de escravos para tomar banho com o sangue delas”, revela o professor.
Teixeira levanta a hipótese de que se Bárbara não está assombrando o Arco do Telles, pode estar ainda frequentando o local. “Se ela conseguiu uma poção de rejuvenescimento, quem sabe, talvez, ainda esteja frequentando aqui, à noite, onde, aliás, muita gente diz que a bruxa continua a solta”, brinca.
O Arco do Telles foi construído entre 1743 e 1747 para o juiz Antônio Telles de Menezes. Atualmente, a região reúne diversos bares que atraem todas as tribos de cariocas e turistas, ficando cheia durante a noite.
Mais casas mal assombradas
Historiador Milton Teixeira fala sobre outros casarões históricos com fama de serem mal assombrados no Rio.
Theatro Municipal: “Tem uma coleção de fantasmas muito bons, inclusive Olavo Bilac, que é chamado lá de ‘O Homem do Bigodinho’. Ele aparece para algumas pessoas e causou frisson algumas vezes”, conta Milton Teixeira.
Museu Histórico Nacional: “Aparece muito lá o Gustavo Barroso, antigo diretor, falecido em 1959. Ele dedicou sua vida àquele museu. Dizem também que tem uma falange de anjos que procuram limpar o local, onde teve muito sofrimento. Foi presídio, fortaleza e arsenal”, explica o historiador.
Cemitério dos Pretos Novos: Historiadores acreditam que 30 mil escravos africanos foram enterrados no local, onde atualmente é um centro cultural na Gamboa, na Zona Portuária. Ele existiu entre 1779 e 1830. Abandonado, casas foram construídas no local. Uma moradora, durante uma obra no jardim, começou a encontrar ossadas. “Ela diz que nunca viu nada. Mas relata que foi pagar uma conta no banco e a balconista olhou para ela com o olhar assustado e disse para ela ‘o que fazem esses crioulos em sua volta?’”, conta Teixeira.
Fortaleza de Santa Cruz da Barra: “Eu mesmo, no final do ano de 1993, levei um grupo de paranaenses lá e vi um vulto. Mas só eu vi, infelizmente. Ele estava parado, em formato antropoide, e parecia uma pessoa coberta com lençóis”, revela Teixeira.
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