quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Mudanças drásticas na mesa do brasileiro
Com disputa entre marcas, cresce venda de congelados e industrializados.Mercado torna-se cada vez mais competitivo pela preferência do consumidor.
Carnes e pratos congelados estão ganhando mais espaço à mesa dos brasileiros. A reboque cresce também o consumo de produtos embutidos, como salsichas e presuntos. Em tempos de crise, a expansão é consequência de o consumidor ter voltado suas atenções para o cruzamento de duas variáveis: dinheiro e tempo. De um lado, são itens que funcionam nas substituições do dia a dia em busca de alimentos mais em conta, na troca do filé mignon pelo frango, do frango pela linguiça e assim por diante. De outro, há mais mulheres trabalhando fora, menos lares com empregada doméstica e demanda por maior praticidade no preparo dos pratos. Em volta da mesa, grandes marcas como Sadia e Perdigão, da BRF, e Seara, da JBS, travam uma acirrada disputa pela preferência do consumidor num mercado cada vez mais competitivo. Apostam em ampliar ganhos com a venda de produtos de maior valor agregado, investindo em marketing e promoção, inovação e ampliação do portfólio.
Crise a favor dos industrializados
— A crise jogou a favor dos produtos industrializados, já que os produtos in natura tiveram grande elevação de preço. O frango in natura ficou 14,25% mais caro nos 12 meses terminados em janeiro. Neste mesmo período, a alta do frango congelado em pedaços foi de 3,81%. Em preços absolutos, o produto processado pode ter preço maior, mas fica mais competitivo porque envolve menos tempo gasto em seu preparo — avalia Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio.
As famílias, continua ele, vêm fazendo escolhas que casem o que podem pagar com o que pode tornar a rotina mais prática. Em 2015, “o carrinho de compras do consumidor” ficou 12% mais caro. Não à toa, as vendas de supermercados e hipermercados encolheram 2,5% no ano.
— É preciso considerar, sobretudo, que a inflação da alimentação fora de casa bateu 10,5% nos últimos 12 meses. É possível driblar essa alta quando o foco da ida a um restaurante é lazer. Mas, nas grandes cidades, as pessoas têm despesas diárias com refeições na rua. A saída é levar a comida de casa — pondera Bentes.
A empresária carioca Bianca de Jesus, de 44 anos, por exemplo, foi atrás de praticidade para conciliar o trabalho, as aulas na faculdade de Direito e a família. Ela tem quatro filhos e compra congelados como hambúrgueres e filés de frango, que considera mais rápidos de preparar:
— São muitas bocas para alimentar. Quando minha mãe e minha sogra estão em casa, contando a empregada, são nove pessoas para as refeições. A cozinha vira quase um refeitório — conta Bianca.
‘restaurante agora ficou muito difícil’
Praticidade. A empresária Bianca de Jesus, que mora com o marido e quatro filhos, compra alimentos congelados para ganhar agilidade no preparo das refeições para a família . Ela já teve duas empregadas. Com o aperto no orçamento por causa da crise, teve de dispensar uma delas e assumir algumas tarefas na cozinha:
— Agora, tive que me organizar. Por isso, o congelado é uma “mão na roda”, mais prático para que eu possa fazer as outras tarefas diárias.
Quando vai ao mercado, Bianca tem dois critérios: primeiro, preço; depois, marca. Ela não reduziu a quantidade de congelados que compra, mas o consumo de alguns itens como lasanha e waffle, que ela agora faz em casa. A família também tem evitado jantar fora e as redes de fast-food foram substituídas pelos hambúrgueres semiprontos.
— Restaurante agora ficou muito difícil. Só em épocas festivas e olhe lá — diz Bianca.
Mayane Soares, executiva de atendimento da Nielsen, destaca que a crise funciona como uma oportunidade para alimentos congelados:
— A racionalização do consumo, alta inflação de serviços e, por consequência, a queda do consumo de alimentos fora do lar favorecem os alimentos perecíveis. O consumidor deixa de ir ao restaurante, mas quer comer algo bacana em casa. E se permite pagar mais pelo prato pronto, ainda que custe mais que um feito em casa. É que sai mais barato que consumir na rua.
Ela cita a alta das vendas de itens industrializados e congelados, numa corrida inversa à dos alimentos em geral. A Cesta Nielsen, que considera 131 categorias de produtos em alimentos, bebidas e higiene, segundo a executiva, encerrou 2015 com estimativa de queda de 0,8% a 1,8% em vendas:
— A cesta de alimentos perecíveis registrou crescimento de 1,8% até outubro, provavelmente fechando 2015 neste mesmo patamar. Nesta cesta, temos produtos industrializados de carne (onde entram os embutidos) com o maior crescimento, de 6,7%, e carnes congeladas (que abrangem pratos prontos, hambúrgueres, cortes de frango temperados), com a quarta maior expansão, de 4,8%. São, efetivamente, opções de proteínas mais acessíveis para o consumidor.
Embutidos ganham espaço
Outra categoria de industrializados caindo nas graças do brasileiro em tempos de crise são os embutidos. A Kantar Worldpanel, especializada em comportamento de consumo, aponta linguiças, presuntos e hambúrguer como os itens de maior crescimento em gastos das famílias com alimentos no ano passado.
— Chama atenção não apenas o fato de serem segmentos que vêm crescendo em vendas e em valor nos gastos das famílias com alimentos, mas principalmente por estarem expandindo a base de compradores. Isso ocorre por serem alternativas em custo/benefício — conta Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel.
Segundo a consultoria, linguiças e presuntos foram os dois segmentos de maior crescimento da cesta que reúne 41 categorias de alimentos consideradas como já desenvolvidas no mercado, que são aquelas consumidas por mais de 70% dos lares do país. Os gastos das famílias com linguiças tiveram alta de 18,4%. Já o com presuntos ficou em 11,1%. O hambúrguer, que entra no grupo de 20 categorias em desenvolvimento (presentes em 40,1% a 70% dos lares), cresceu em 5,3%. As pizzas tiveram alta de 5,19%. Em contraponto, a cesta de alimentos como um todo, abocanhou mais 1% dos gastos das famílias em 2015.
Comida caseira: alternativas
A Seara vem passando por uma renovação desde que foi adquirida da Marfrig pela JBS, em 2013, tendo dobrado a receita líquida para R$ 20 bilhões até outubro de 2015. Nos últimos dois anos, lançou mais de uma centena de produtos, apostando na promoção da marca, que contratou a apresentadora Fátima Bernardes como garota-propaganda.
Chegou ao Rio esta semana nova ferramenta de exposição da marca, o food truck da Seara. O projeto-piloto roda por São Paulo há um ano e três meses. Na capital fluminense, vai rodar pela cidade com três opções de pratos elaborados com produtos da marca assinados por chefs. Na prática, é uma experiência de degustação atrelada às redes sociais. Cada pessoa que experimenta um prato — são 300 refeições por parada — é estimulada a compartilhar sua experiência pela web.
— Renovamos o portfólio com foco em qualidade, sabor e praticidade, como a linha Assa Fácil. Criamos uma campanha para estimular o consumidor a provar os produtos. Com o Social food truck, chegamos a cinco milhões de compartilhamentos em redes sociais no fim de 2015 — diz Tannia Fukuda Bruno, gerente executiva de marketing da Seara.
No cardápio do food truck carioca, coxinha de frango, misto quente frito e sanduíche waldorf de peito de peru. Em linha com as categorias em crescimento no mercado. Os congelados Seara avançaram de 18,9% de participação no mercado do Rio entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015 para 23,4% entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016. As categorias de maior destaque nessa expansão foram hambúrguer e cortes temperados. Em industrializados, que subiu de 13,3% para 16% em 2015, os destaques de vendas foram linguiças.
A gigante Sadia está armando seu “restaurante” no varejo. Está lançando, pela primeira vez, três opções de refeições completas, atenta à demanda por pratos prontos e praticidade.
— Os pratos prontos serão um foco para os próximos anos, com grande oportunidade de crescimento. As pessoas querem alternativas próximas do que comem em casa, com ingredientes reconhecíveis, mais sabor, para além da pizza e da lasanha — explica Cecília Mondino, gerente executiva de congelados da Sadia, que também destaca alta em consumo de congelados e embutidos da marca.
Strogonoff de carne com batata palha e arroz; parmegiana com batata palha e arroz e frango assado com purê de batata e arroz são as três opções do lançamento. Os produtos ganham campanha para a TV em março, com filme afinado com as mudanças pelas quais as famílias vem passando: mostrará o pai “cozinhando” opções de pratos prontos como se estivesse num restaurante em casa.
— Sentimos a demanda por agilidade no preparo das refeições. Dois anos atrás, vendíamos mais filé de peito de frango em bandejas do que o que traz filés congelados individualmente, permitindo o uso de poucas unidades por vez. Isso se inverteu — diz Cecília.
A Perdigão, a marca da BRF voltada aos consumidores que passam a comprar essas categorias de alimentos, coloca no mercado em abril a feijoada da marca. Servirá até quatro pessoas.
Fonte Globo
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