Ela reduz o stress e o risco de doenças inflamatórias
Estudo feito por cientistas americanos mostrou pela primeira vez que, ao contrário de um placebo, a prática leva a alterações cerebrais que têm efeitos positivos na saúde Preste atenção: ao equilibrar o funcionamento do organismo, a meditação previne doenças, fortalece o sistema imunológico e evita o stress
Um estudo científico feito pela Universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, trouxe novas evidências de que a meditação, mais do que relaxar, tem efeitos positivos na saúde. A pesquisa, liderada pelo professor J. David Creswell, mostrou pela primeira vez que, ao contrário de um placebo, a prática é capaz de provocar alterações mentais que podem reduzir o stress e o risco de doenças inflamatórias, como as do intestino.
Meditação ganha, enfim, aval científico
Um dos problemas dos estudos científicos sobre meditação é metodológico: para apresentar resultados rigorosos e contundentes, os pesquisadores costumam utilizar um grupo controle na pesquisa - ou seja, participantes que, por exemplo, tomam um placebo enquanto outros recebem um medicamento. Assim os resultados dos dois grupos podem ser comparados ao final. Mas, como criar um efeito placebo com a meditação, uma atividade que os indivíduos normalmente têm consciência de estar praticando?
Para resolver essa questão, Creswell e sua equipe recrutaram 35 pessoas desempregadas, que estavam procurando vagas no mercado de trabalho, e, portanto, se encontravam em uma situação estressante. Os especialistas fizeram exames de sangue e neurológicos com os participantes e, em seguida, dividiram o grupo em dois. Metade dos indivíduos foi para um retiro e aprendeu a realizar práticas autênticas de meditação enquanto a outra metade foi submetida a uma meditação "enganosa" - técnicas de relaxamento capazes de distrair os participantes de suas preocupações (sendo este o efeito placebo).
Os indivíduos realizaram as atividades durante três dias, sendo examinados cinco minutos antes e depois de cada sessão. De acordo com a pesquisa, todos os integrantes se diziam mais animados e preparados para enfrentar o stress do desemprego ao final do período de testes. Contudo, apenas o cérebro dos participantes que realizaram a meditação autêntica apresentava diferenças. Esse grupo mostrava mais comunicação entre as áreas cerebrais que coordenam as respostas ao stress e as relacionadas a foco e calma. Após quatro meses, testes sanguíneos revelaram que o grupo que praticou a meditação ainda apresentava níveis reduzidos para os marcadores de doenças inflamatórias, ao contrário da porção que praticou as técnicas de relaxamento.
A equipe de especialistas acredita que os resultados são as primeiras evidências de que a meditação pode estar associada à redução do risco de doenças inflamatórias.
Respaldo científico - Difundida em toda a Ásia, a prática começou a se popularizar no ocidente durante os anos 1960. Até a década passada, no entanto, não contava com o aval da ciência. Nos últimos anos, com o avanço de técnicas como a ressonância magnética e a tomografica, os cientistas começaram a perceber que a meditação pode alterar o funcionamento de algumas áreas cerebrais que influenciam no equilíbrio do organismo, trazendo impactos concretos e positivos na saúde.
Os benefícios da meditação
Redução do stress
Meditar é mais repousante do que dormir. Uma pessoa em estado de meditação consome seis vezes menos oxigênio do que quando está dormindo. Mas os efeitos para o cérebro vão mais longe: pessoas que meditam todos os dias há mais de dez anos têm uma diminuição na produção de adrenalina e cortisol, hormônios associados a distúrbios como ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade e stress. E experimentam um aumento na produção de endorfinas, ligadas à sensação de felicidade. A mudança na produção de hormônios foi observada por pesquisadores do Davis Center for Mind and Brain da Universidade da Califórnia. Eles analisaram o nível de adrenalina, cortisol e endorfinas antes e depois de um grupo de voluntários meditar. E comprovaram que, quanto mais profundo o estado de relaxamento, menor a produção de hormônios do stress. Este efeito positivo não dura apenas enquanto a pessoa está meditando. Um estudo conduzido pelo Wake Forest Baptist Medical Center, na Carolina do Norte, colocou 15 voluntários para aprender a meditar em quatro aulas de 20 minutos cada. A atividade cerebral foi examinada antes e depois das sessões. Em todos os pesquisados, foi observada uma redução na atividade da amígdala, região do cérebro responsável por regular as emoções. E os níveis de ansiedade caíram 39%. Para quem já está estressado, a meditação funciona como um remédio. Foi o que os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos descobriram ao analisar 28 enfermeiras do hospital da Universidade do Novo México, 22 delas com sintomas de stress pós-traumático. A metade que realizou duas sessões por semana de alongamento e meditação viram os níveis de cortisol baixar 67%. A outra metade continuou com os mesmos níveis. Resultados parecidos foram observados entre refugiados do Congo, que tiveram que deixar suas terras para escapar da guerra. O grupo que meditou ao longo de um mês viu os sintomas de stress pós-traumático reduzir três vezes mais do que as pessoas que não meditaram – índices parecidos aos já observados entre veteranos americano.
Melhoria do sistema cardiovascular
A Universidade de Ciências da Saúde da Geórgia conseguiu melhorar a sobrecarga cardíaca de 31 adolescentes americanos hipertensos. Os jovens apenas acrescentaram um hábito a suas rotinas: meditar duas vezes por dia, durante 15 minutos, ao longo de quatro meses. Outros 31 receberam orientações médicas, mas não meditaram. A primeira metade terminou o período de testes com a massa do ventrículo esquerdo menor – sinal de redução dos riscos de desenvolver doenças cardíacas e vasculares. Outro levantamento, este da Universidade da Califórnia em Los Angeles, mediu o acúmulo de gordura nas artérias de 30 pessoas com pressão alta. Depois de meditar 20 minutos, duas vezes por dia, ao longo de sete meses, a quantidade estava menor, enquanto que ela não havia sido alterada no grupo de controle. Meditar também é útil para reduzir em 47% as chances de ataque cardíaco e infarto em adultos. Foi o que concluiu a Associação Americana do Coração, depois de acompanhar um grupo de pacientes de 59 anos de idade, em média, ao longo de nove anos, de 2000 a 2009. Todos continuaram recebendo a medicação necessária, mas metade foi convidada a participar de sessões de meditação sem regularidade definida. Neste grupo, a pressão arterial caiu significativamente. "Foi como se a meditação funcionasse como um medicamento totalmente novo e muito eficiente para prevenir doenças cardíacas", afirma o fisiologista americano Robert Schneider, diretor do Center for Natural Medicine and Prevention e responsável pelo estudo.
Reforço do sistema imunológico
O sistema imunológico também é favorecido. "O aumento da atividade cerebral relacionada a pensamentos positivos tem influência direta na maior produção de anticorpos. A meditação também intensifica a ação da enzima telomerase", diz Judson A. Brewer, de Yale. As implicações desta descoberta são fundamentais para o tratamento de tumores malignos. A Associação Americana de Urologia já declarou que a meditação é recomendada para ajudar a conter o câncer de próstata. Também ajuda a lidar com o câncer de mama. Um grupo de 130 mulheres com a doença, todas com mais de 55 anos, aceitaram participar de um teste que reforça esta teoria. Ao longo de dois anos, elas foram divididas em dois grupos, um deles fazendo meditação. A situação foi monitorada pelos médicos do Saint Joseph Hospital, em Chicago. A metade que meditou teve maior resistência para lidar com as dores provocadas pela quimioterapia e experimentou uma reação física melhor à doença.
Melhoria na concentração
Na escola estadual Bernardo Valadares de Vasconsellos, em Sete Lagoas (MG), os 1.400 alunos fazem, todos os dias, o Tempo de Silêncio. Quem desejar pode aproveitar os 15 minutos para meditar. Quem não quiser, pode apenas descansar. A iniciativa foi inspirada pela Fundação David Lynch, que já orientou a criação de programas de meditação na escola estadual Presidente Roosevelt, em São Paulo, e na escola estadual Helio Pelegrino, no Rio de Janeiro. “Estimamos que 20% dos estudantes continuam meditando por conta própria”, diz Joan Roura, diretor da fundação no Brasil. “Alunos que meditam são mais tranquilos, mais focados e têm maior capacidade de apreender informações.” A prática rende melhores notas: entre 235 crianças de colégios de Connecticut que começaram a meditar, representou um aumento de 15% nas provas e avaliações. As áreas do cérebro responsáveis pela memória e pela atenção chegam a ficar mais densas quando se medita. Foi a conclusão a que chegaram pesquisadores de Harvard, Yale e MIT, municiados por scanners de cérebro. Pessoas que mediram com frequência ao longo de vários anos também demoram mais para sofrer a redução destas áreas, em especial o córtex frontal. “Um estudante que medita pode ter melhores notas, uma vida mais saudável e boas condições de lutar por melhores postos no mercado de trabalho, com menor tendência para sofrer doenças cardiovasculares, stress ou distúrbios mentais”, diz Judson A. Brewer. Em resumo: “Meditar é uma boa forma de alcançar uma vida mais feliz, saudável e produtiva”.
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