quinta-feira, 7 de maio de 2015
Por que os conselhos de alimentação saudável mudam tanto?
Especialista afirma que estudos contraditórios sobre comida confundem o público ainda mais, como mostra essa matéria da Folha de São Paulo.
Se você estivesse procurando informações sobre alimentação saudável tempos atrás, provavelmente tentaria limitar, talvez até banir, o consumo de gordura. Ela era associada a obesidade, colesterol e alto risco de infarto.
Pesquisas mostraram agora que pessoas que consumiram mais gordura saturada não tinham maior risco de doença cardíaca, AVC ou qualquer outra forma de doença cardiovascular.
O ovo também vive na corda bamba. Seu consumo já foi vetado para quem tem colesterol alto. Mas, hoje, pesquisas não apontam relação entre o consumo de um ovo por dia e aumento do risco de problemas cardiovasculares.
As explicações para isso são várias. Uma passa por uma dificuldade desse tipo de estudos: isolar variáveis quando se trata de compreender a alimentação humana.
O controle que os pesquisadores têm sobre a alimentação de voluntários está longe de ser total, e muitas vezes eles dependem de relatos das pessoas sobre o que elas comem, informações que não são completamente precisas. Outros fatores não alimentares ainda influem nos resultados, como atividades físicas ou até questões emocionais.
Além disso, pesquisas confiáveis exigem acompanhar grupos grandes de pessoas ao longo de períodos razoáveis de tempo.
Mas, como apontam os nutricionistas ouvidos pela Folha, nem sempre pacientes e a mídia têm paciência: quando o assunto é saúde e emagrecimento, respostas milagrosas e modismos fazem sucesso, o que dá combustível a pesquisas com limitações metodológicas ou estatísticas.
"É preciso que fique claro que os efeitos da alimentação na saúde não têm percepção imediata, como um remédio que faz a dor de cabeça passar", diz Lara Natacci, nutricionista da Diet Net.
Além disso, o público não especializado tem dificuldade para entender que conclusões científicas abstratas sobre os benefícios de determinado alimento não necessariamente se aplicam a casos específicos individuais.
"Temos informações gerais, mas ninguém sabe exatamente como cada um funciona. A biologia nunca é uma ciência exata", afirma Sophie Deran, nutricionista da USP.
Na maior parte das pessoas, por exemplo, o consumo de gorduras reduz o HDL, que é o colesterol bom. Mas estudos indicam, aponta a pesquisadora da USP, que as gorduras têm o efeito contrário em 20% da população –e não se sabe precisamente o motivo.
Por fim, é bom ter em mente que há gente ganhando dinheiro com modismos alimentares, diz Lara. "O marketing da indústria do emagrecimento é mais rápido do que o estudo científico."
Sophie conta que já assistiu a uma palestra sobre mitos e verdades do adoçante financiada por uma indústria do setor. "Havia centenas de nutricionistas lá. É como publicidade. Você tem que entender que há interesses."
A solução para lidar com esse mar de informações contraditórias sobre os benefícios e malefícios dos alimentos? Não ficar paranoico com isso, afirma Sophie.
"Quanto mais você pensa em alimentação, mais se estressa. O ato de comer vira uma preocupação. Se você senta para comer estressado, culpado, não vai comer nem digerir do mesmo jeito", diz a pesquisadora.
Mapa dos absurdos
Café, ovo, alimentos com gorduras saturadas, quanto se disse em relação a eles e os males que provocariam ao organismo. Mas, passado anos, a situação muda e esses mesmos alimentos são "inocentados" em relação à condenação passada. Vejamos:
Café
Anteriormente, estudos sobre o consumo do café e o risco de insuficiência cardíaca eram discrepantes. Atualmente, no entanto, uma revisão desses estudos "acusatórios" concluiu que até 4 porções (chícaras) por dia reduziriam em 11% o risco de insuficiência cardíaca. Mas, se houver excesso, claro, concluem, a bebida tão apreciada pelos brasileiros coloca o coração em risco.
Ovo
Anos atrás o consumo de ovos foi proibido para quem tem colesterol alto, e estudos apontaram que o consumo das gemas do ovo pode ser tão prejudicial quanto fumar. Agora, a situação muda quando pesquisas não apontam a relação entre o consumo de um ovo por dia com o aumentos dos riscos de problemas cardíacos. Vá entender...
Gordura saturada
Sanduíches gordurosos, frituras, etc...No passado ela era demonizada pór sua relação com as doenças cardíacas, e hoje pesquisas mostraram que ela não inimiga do coração e que pessoas que consumiram mais gordura saturada não tinham maior risco de doença cardíaca ou AVC (Acidente Vascular Cerebral).
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