quinta-feira, 7 de maio de 2015

Moda e arte no Masp: a retomada do glamour?

                              

Este é um bom motivo para ir a São Paulo para visitar o museu.

"Um belo traje vale tanto quanto uma boa pintura." Quando orquestrou um badaladíssimo desfile de moda numa galeria do Masp em 1951, Pietro Maria Bardi, um dos fundadores do museu, justificou com essa frase o evento.

Nas primeiras fileiras, a nata da alta sociedade paulistana disputava espaço para ver manequins que desfilaram criações de Christian Dior e até um vestido desenhado pelo surrealista Salvador Dalí entre esculturas de Alexander Calder e telas de Modigliani.

Mas mesmo com toda a pompa, a ideia de construir no museu uma plataforma sólida para a moda não vingou. Só agora, mais de meio século depois, o Masp vai retomar a proposta de um de seus criadores, planejando uma exposição de seu acervo de moda para novembro deste ano.

No caso, moda brasileira. Sairão do armário criações com estampas de artistas como Willys de Castro, Hércules Barsotti, Manabu Mabe, Francisco Brennand e Nelson Leirner –peças encomendadas pela fábrica de tecidos Rhodia ao longo dos anos 1960 e doadas para o Masp em 1972.

"Não queremos chamar roupas de obra de arte, mas o Masp tem uma longa história com a moda", conta Patrícia Carta, responsável pela revista "Harper's Bazaar" no país e também à frente da coleção de indumentária do museu. "Estamos retomando ações que já existiam e foram deixadas para trás, ficaram escondidas."

Não é, aliás, a primeira vez que o Masp tenta pôr sua coleção de moda nos holofotes.

Depois dos desfiles de Bardi nos anos 1950 e da tentativa frustrada de fundar uma escola para modelos lá dentro, o museu tentou criar, no início dos anos 2000, uma ala para esse acervo na galeria Prestes Maia, no centro da cidade.

Mas a ideia naufragou. Só depois da mudança no comando do Masp no ano passado, esses planos parecem viáveis. Adriano Pedrosa, novo diretor artístico do museu, vê isso como uma prioridade.

"Esse grupo de vestidos é deslumbrante", diz Pedrosa. "Olhando para os acervos do museu, vi alguns conjuntos e elementos interessantes que poderiam ser desenvolvidos para além das artes visuais. E a moda, de fato, traz um novo público ao museu."

De olho nesse público, Pedrosa foi buscar no Metropolitan, de Nova York, um modelo para dirigir o acervo de moda. Lá, a poderosa editora da "Vogue", Anna Wintour, responde pela coleção de indumentária. Em São Paulo, a escolha de Carta, que não tem passagem por museus, mas tem relevância editorial, segue essa estratégia.

'CRÈME DE LA CRÈME'

"Vai ter muita gente do mundo acadêmico metendo pau nisso", diz Patrícia Sant'Anna, autora de uma tese sobre os vestidos do Masp. "Mas não vejo problema. Ali está o 'crème de la crème' da moda dos anos 1960. É importante isso aparecer porque resume o espírito da época."

Ou os excessos da época. A Rhodia, empresa que tentava emplacar seus fios sintéticos na então tímida indústria têxtil do país, realizava desfiles de moda com vestidos criados por artistas e trilha sonora de músicos como Caetano e Gil para chamar a atenção.

"Era um espetáculo, um show", lembra a atriz Mila Moreira, que desfilou para a Rhodia por 11 anos. "Aquilo era na época o que a Globo é hoje. Era o evento mais esperado."

Mas a mostra do Masp talvez não tenha o mesmo impacto. Muito frágeis, os vestidos não podem mais ser usados por modelos, sendo que alguns nem podem ser expostos de pé em manequins para não forçar demais as alças.

Enquanto o museu estuda soluções para a exposição, as peças vêm sendo restauradas. Um pedido de empréstimo para uma mostra no Museu da Casa Brasileira, aliás, foi negado e uma réplica teve de ser feita para poupar o vestido.

Fora as peças históricas, o Masp deve começar a fazer novas aquisições para a coleção de moda, com foco em peças de estilistas brasileiros dos anos 1990. Será mais uma tentativa de retomar a visão de Bardi, que dizia que "um vestido é para o corpo o que o estilo é para uma época".


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