segunda-feira, 18 de maio de 2015

Linhas turísticas de trem de locais históricos serão retomadas


                             
 
Uma viagem a rotas do Brasil Império, a cidades envolvidas na Guerra do Contestado, ao passado da cana-de-açúcar e, além disso, a possibilidade de trafegar em uma ponte férrea em curva. Em alguns desses locais, prefeitos sem qualquer compromisso com seus municípios destruíram linhas, vendendo estações ferroviárias centenárias para instalação de supermercados, como aconteceu em Miguel Pereira (RJ), onde até o museu do cantor Farncisco Alves foi deslocado do seu lugar tradicional. Perto, em Paty do Alferes, o prefeito, na ocasião, cedeu a estação para a instalação da Cedae. Resultado, o tradicional "Trem Azul", que cortava aquela parte da Região Serrana do Sul fluminense nunca mais teve chance de voltar como queriam moradores, comerciantes e turista. Mas existe solução para outros casos, como aponta reportagem do jornal Folha de São Paulo. O Rio de Janeiro está na lista de contemplados.

Após décadas de inércia, projetos que contam com a iniciativa privada, prefeituras, órgãos federais e entidades de preservação da memória ferroviária preveem a retomada de linhas turísticas em nove locais, de seis Estados: São Paulo, Minas Gerais, Rio, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O trecho mais recente a receber autorização da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para oferecer o transporte ferroviário de passageiros foi o de Guararema-Luiz Carlos, de 5,5 km e operado pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) em São Paulo.

Uma maria-fumaça e três vagões, que levarão até 130 passageiros, foram reformados por R$ 1,1 milhão e devem começar a funcionar até o fim do ano, segundo Hélio Gazetta Filho, diretor da ABPF.

Além dele, São Paulo tem outros, em São José do Rio Preto e Sertãozinho. Em Rio Preto, o Trem Caipira chegou a operar há um ano, mas parou e está em fase de análise de documentação. Já no projeto de Sertãozinho, a rota vai da estação ferroviária a Pontal, num trecho de 10 km em meio a extensos canaviais.   

No Rio, a Oscip Amigos do Trem deve abrir em setembro uma linha de 4,5 km, após mais de 20 anos sem ferrovias. A longo prazo, o plano é chegar a 44 km até Paraíba do Sul, num trecho que inclui uma ponte em curva.

"É o primeiro projeto de sucesso de trem turístico no interior. E Barão de Mauá começou isso no Rio. Temos de reativar linhas para mostrar que há potencial turístico e de cargas", diz Paulo Henrique do Nascimento, presidente da entidade.

Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, inaugurou a Estrada de Ferro Mauá em 1854. Os trilhos estão sendo recolocados -os antigos foram furtados- e o valor total chega a R$ 2,5 milhões.

Presidente da Abottc (Associação Brasileira dos Operadores de Trens Turísticos e Culturais), Adonai Aires de Arruda Filho disse que, para a retomada do transporte, são feitos estudos de viabilidade econômica e operacional.

DA ÉPOCA DO IMPÉRIO

É nesta fase que está a linha Estrela-Guaporé, no Rio Grande do Sul, em que a empresa em que Arruda Filho é diretor, a Serra Verde, tem interesse. "No caso de Estrela, já há a via, por onde passa trem de carga, que tem demanda baixa", explica.

Os estudos são feitos pela associação em parceria com o Sebrae. Outro é o Rio Pardo-Cachoeira do Sul (RS). A Oscip Movimento Civil de Preservação Ferroviária chegou a receber verba de R$ 1,2 milhão da União, mas devolveu por não usá-la a tempo. Falta, segundo o presidente Mauro Back, a contrapartida de R$ 360 mil, para contratar funcionários, buscar locomotivas em outras cidades e reformar vagões.

"Já temos estações e contratos de cessão. A fase lúdica está pronta." Quando operar, percorrerá 38 km em locais existentes desde o período imperial (século 19).

Em União da Vitória (PR), uma das cidades envolvidas na Guerra do Contestado (1912-1916), a rota de 6,5 km vai até Porto União (SC) –são vizinhas, separadas justamente por um trecho ferroviário. Para circular, os municípios aguardam liberação para reformar a locomotiva, que tem 101 anos.

Em Poços de Caldas (MG), a expectativa é que a maria-fumaça e três vagões operem até 2016. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) autorizou o remanejamento de trilhos para reconstruir a linha.

O Ministério do Turismo informou ter destinado, nos últimos 13 anos, R$ 22 milhões para recuperar estações, implantar trens turísticos e melhorar trechos ferroviários de 27 cidades.

LOCOMOTIVA CENTENÁRIA

Após quase 30 anos de restauro, uma locomotiva centenária de fabricação alemã deverá ser colocada em operação na linha de Campinas a Jaguariúna, no interior paulista.

Operado pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, o trecho turístico de 24,5 km já tem outras cinco locomotivas e 15 vagões, que se revezam na rota ferroviária sempre nos fins de semana.

"Recebemos a Maria-fumaça no final dos anos 1980 e, devagar, fomos conseguindo reformar", afirmou Hélio Gazetta Filho, diretor da ABPF.

Originária da antiga Estrada de Ferro Araraquara, a locomotiva foi uma das recebidas por comodato do acervo das antigas Fepasa e RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.). "Como não há nada no mercado, temos de fazer tudo artesanalmente."

Além dessa locomotiva, a ABPF tem em seu acervo máquinas das antigas companhias Paulista e Mogiana. Não há compatibilidade de peças entre os trens, o que torna o trabalho de restauro mais lento.

O passeio parte da estação Anhumas, em Campinas, e tem como destino o centro de Jaguariúna. O ingresso custa R$ 80 (inteira). O trajeto tem duração de três horas e meia.

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