sábado, 17 de outubro de 2015
Tá afim de passear diferente?
Cemitério da Consolação terá visita noturna por seus túmulos históricos. Grandes nomes estão sepultados como Mário e Oswald de Andrade. O Portal G1 acompanhou visita de inauguração na noite de sexta. Família Matarazzo tem o maior mausoléu da América Latina.
Para quem está acostumado a aprender história nas salas de aula ou em livros, essa pode ser uma opção um tanto quanto diferente: caminhar pelo Cemitério da Consolação à noite, com iluminação apenas de velas e lanternas. Lá estão sepultados grandes nomes que ajudaram a escrever a história de São Paulo, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Monteiro Lobato.
A partir de novembro, o Cemitério da Consolação irá abrir para visitas guiadas noturnas. Em caráter experimental, as visitas do primeiro mês poderão ser marcadas apenas por guias de turismo. Se a experiência for positiva, a atividade será oficializada.
Fundado em 1858, é o cemitério mais antigo de São Paulo. A ideia de construí-lo na Rua da Consolação foi do jornalista Libero Badaró, enterrado no local. Outro túmulo representativo é o da Marquesa de Santos, conhecida por ser amante de Dom Pedro I. Em sua lápide está escrito “doadora das terras deste cemitério”.
Também chama atenção o mausoléu da família Matarazzo, o maior da América Latina. O espaço ainda reúne cerca de 300 esculturas e trabalhos de artistas renomados como Victor Brecheret e o arquiteto Ramos de Azevedo. E não são só ícones paulistanos de 100 anos atrás que estão enterrados no cemitério, o compositor Paulo Vanzolini, do clássico “Volta por cima”, morto em 2013, e o ator Paulo Goulart, que faleceu em 2014, também estão sepultados lá.
Nos túmulos de personalidades há um totem com um QR-code para leitura do celular. O link leva o visitante para uma página com o perfil do homenageado.
O passeio só não é recomendado para quem tem medo de barata. A escuridão e o calor desta sexta fizeram com que elas se sentissem à vontade para transitar nos corredores entre os túmulos.
De coveiro a afinado guia de história
Durante a visita inaugural feita por atores caraterizados, alguém que conhecia o cemitério como a palma da mão apontava não só o caminho como até os pontos onde troncos poderiam causar tropeços nos distraídos. É o guia oficial do Cemitério da Consolação, Francivaldo Almeida Gomes, 49, mais conhecido como “Popó”, por uma suposta semelhança com o lutador.
Cearense de nascimento e paulistano de coração, ele chegou no cemitério em 2000 para trabalhar como sepultador, o vulgo coveiro. Ele teve como professor, como gosta de chamar, o historiador Délio Freire dos Santos, responsável pelas primeiras pesquisas sobre o patrimônio artístico e histórico do local. “Ele foi me ensinando a cultuar a história de quem estava sepultado aqui, que prestou um relevante serviço para a sociedade”, contou.
Popó gostou tanto da história de São Paulo e das personalidades enterradas que quando acabava seu turno de coveiro ele ia para a Biblioteca Mário de Andrade estudar. Em 2001, Délio dos Santos, que guiava as visitas no local, adoeceu. Ele não conseguia mais cumprir a agenda das visitas e Popó passou a ajudá-lo. Em 2002, quando faleceu, o sepultador assumiu definitivamente a função de guia do cemitério.
"Eu estou representando a cidade de São Paulo. Amo essa cidade. Encontrei a melhor forma de contribuir com o que ela tanto fez pra mim” disse Popó.
Museu
A Secretaria Municipal de Serviços, na qual está alocada a autarquia do Serviço Funerário – responsável pela atividade – disse que tem o objetivo de tornar o Cemitério da Consolação um museu. “É um cemitério histórico. Queremos transformar num museu a céu aberto, com guia para visitação”, disse o secretário de serviços Simão Pedro.
O secretário ainda disse que a novidade da visita guiada noturna faz parte de uma série de atividades que estão sendo implantadas em cemitérios com o objetivo de aproveitar e ocupar mais os espaços. “O Cemitério da Consolação tem arte, cultura e história. Acho que a população tem o direito de usufruir”.
Simão Pedro também citou os “cemitérios-parque”, como o da Vila Formosa e o da Cachoeirinha. “Lá [no cemitério Vila Formosa] nós criamos um circuito ambiental, uma trilha ambiental”.
Algumas atividades enfrentaram resistência, como o “Cinetério”, que apresentou filmes de terror no Cemitério da Consolação. Neste caso, o concessionário de uma sepultura entrou com uma liminar contra a apresentação, que teve que mudar para a rua ao lado do cemitério.
“A gente lamenta, é uma minoria, aqui [no Cemitério da Consolação] são tantos concessionários, aqui foi um. Mas nós respeitamos, vamos dialogar com esse”, disse o secretário. “Há alguns que olham isso aqui como um patrimônio particular e não é, é um equipamento público, nós fazemos concessões aos cidadãos que queiram ter um ente querido enterrado aqui”,
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