sexta-feira, 24 de maio de 2019

Brasil na frente do ranking de cirurgia plástica entre adolescentes

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Ninfoplastia também está liderando o número de intervenções cirúrgicas e uma ex-BBB foi para o Instagram falar detalhes sobre a reconstrução da vagina.

Jovens buscam intervenção estética para aumentar a autoestima. Segundo levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, 18,6% dos cirurgiões plásticos brasileiros já fizeram procedimentos para aumentar os seios de mulheres menores de idade.

Os adolescentes brasileiros se submetem cada vez mais a cirurgias plásticas. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), nos últimos dez anos houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos. Em 2016 — ano do último censo realizado pela SBCP—, foram feitas 1.472.435 cirurgias plásticas estéticas ou reparadoras em solo nacional, das quais 6,6% foram em pacientes com até 18 anos, o equivalente a 97 mil procedimentos.

Esses números colocam o Brasil na liderança em número absoluto de jovens que passam por esse tipo de cirurgia. “Nos Estados Unidos, 4% dos pacientes que se submetem a cirurgia estética são adolescentes. Só no ano passado foram realizadas cerca de 66 mil cirurgias estéticas. No Brasil esse número já ultrapassou 90 mil”, explicou Jayme Farina Junior, chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).

O fenômeno é global, tanto que a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps, na sigla em inglês), em seu mais recente censo, com dados de 2017, dedicou um capítulo específico a procedimentos de aumento de seios entre mulheres de até 18 anos. Foram entrevistados 1.329 cirurgiões de todo o mundo e, entre os brasileiros, 18,6% responderam já ter feito aumento de seios em mulheres menores de idade. É o segundo país em que os cirurgiões mais fizeram esse tipo específico de procedimento, perdendo apenas para o México, onde um em cada cinco cirurgiões afirmou já ter feito cirurgias em pessoas nessa faixa etária.

A diferença para os demais países é enorme: nos Estados Unidos, o terceiro colocado, apenas 7% dos entrevistados realizaram esse tipo de procedimento. Ainda segundo a Isaps, em 28,8% dos casos a motivação para colocar o implante é “puramente cosmética, para aumentar”. Em 20,8% o objetivo é corrigir “assimetrias graves”.
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Opiniões    ­

A cirurgia plástica por motivos estéticos em adolescentes divide a comunidade médica. “A maioria dos cirurgiões plásticos concorda que esses procedimentos devem ser evitados em pacientes que ainda estão em fase de crescimento, o que varia de pessoa para pessoa”, disse Farina Junior.

“A gente aceita que depois de uns 18 anos de idade o corpo está estabilizando, mas existem pessoas que com 21 ainda sofrem transformação do corpo. Mas, na média, a transformação maior termina ali nos 18, 19 anos. Agora, uma menina de 15 anos que quer fazer lipo e colocar silicone nas mamas? Tem colegas que operam sem problemas, mas não é nossa recomendação.”

Para Niveo Steffen, presidente da SBCP, a cirurgia plástica pode, em muitos casos, ajudar a recuperar a autoestima do adolescente. “Na verdade, não é apenas um procedimento estético, é um ato que vai recuperar algo que faz parte da identidade, da autoestima e da aceitação”, explicou.

Ele ponderou, no entanto, que a SBCP orienta que cirurgias em menores de 18 anos sejam exceções. Cada caso deve ser analisado a fundo, disse o especialista. “Às vezes é mais difícil dizer não do que realizar o procedimento. Agora, em um caso de menina de 17 anos com avaliação ginecológica e endocrinológica normais, com indícios de que aquela mama não vai mais se desenvolver, numa circunstância dessas a realização da cirurgia é absolutamente aceitável.”

Descontentamento com o corpo

Segundo a psicanalista Monica Donetto Guedes, a cirurgia gera muitas vezes descontentamento. “O pós-operatório, psicologicamente falando, é muito complexo. Há registros de casos clínicos de pessoas que chegam aos consultórios de analistas porque não ficaram felizes com o resultado. Porque isso envolve a imagem do corpo do outro. E não necessariamente aqueles mililitros que você colocou vão deixar seu peito daquele jeito, porque continua sendo o corpo do outro”, disse Guedes.

“Mexer no corpo sempre é algo complexo, psicologicamente falando, ainda mais em adolescentes. Muitos distúrbios só vão aparecer no fim da adolescência, e mexer no corpo antes disso pode gerar estruturas traumáticas ainda mais complexas.”

Apesar de ser a cirurgia mais procurada entre mulheres de todo o mundo — em 2017,  1,6 milhão de próteses de seios foram colocadas —, o implante de silicone fica em segundo lugar quando se olha para a faixa etária até os 18 anos. A cirurgia mais procurada por adolescentes é a rinoplastia — intervenção cirúrgica para remodelar o nariz —, que contabilizou 70.800 procedimentos em 2017, em comparação a 44.600 procedimentos de aumento de mamas feitos em adolescentes em todo o mundo.

Entre as diversas opções de cirurgias plásticas têm crescido também as cirurgias íntimas. A labioplastia ou ninfoplastia consiste na remoção de pele dos lábios vaginais para correção estética. Foi feita por 138 mil mulheres, em todo o mundo, e de todas as idades, em 2017. Já o rejuvenescimento vaginal — que pode ser interno ou externo — foi feito por 98 mil mulheres naquele ano. O Brasil é líder mundial em intervenções íntimas. De 2015 a 2017, o número de cirurgias desse tipo passou de 12.800 para 28.300, segundo a Isaps.

Ninfoplástia

A ex-BBB Letícia Santiago, que participou da 14ª edição do "Big Brother Brasil", contou em seu canal no YouTube que passou por uma ninfoplastia — cirurgia para redesignação da vagina — e uma lipoescultura.

Letícia, que é casada com o deputado Miguel Corrêa e mãe de três filhos, contou que o marido deu até um apelido para suas partes íntimas. "Meu marido até apelidou minha pepeca de hipopótama. Está roxinha. Na região íntima, não posso fazer nada. De resto, já posso fazer atividades físicas na semana que vem. Vamos ver se o maridão vai aprovar. Vamos ver quando a ‘hipopótama’ desinchar", afirmou.

“As mulheres descobriram que podem ter a vagina dos sonhos”, contou o cirurgião Fernando Bianco, afirmando que há influência das redes sociais nessa preocupação com a aparência da vagina. E completou: “O que nos surpreende é o número de meninas menores de 18 anos procurando a labioplastia. Calculamos que mais da metade não tinha completado a maioridade.”

A endocrinologista Marília Martins Guimarães, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, explicou que as partes íntimas do corpo feminino amadurecem em torno de três anos após a primeira menstruação. No entanto, a fase de crescimento do corpo, como um todo, só termina aos 20 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. “O desenvolvimento puberal, que é o que envolve as mamas, por exemplo, amadurece em torno de três anos após a primeira menstruação. A partir daí, a moça já não cresce mais em altura, mas seu corpo ainda está passando por mudanças. Por exemplo, a densidade dos ossos muda. É claro que isso varia de organismo para organismo”, disse.

Entre 2015 e 2016, o sistema público de saúde britânico registrou 150 pedidos de labioplastia feitos para meninas com menos de 15 anos. “As meninas aparecem às vezes com comentários como ‘eu apenas a odeio, quero que seja removida’, e uma garota se sentir assim sobre qualquer parte de seu corpo — especialmente uma parte tão íntima — é muito triste”, afirmou Naomi Crouch, membro da Sociedade Britânica de Pediatria e Ginecologia Adolescente. Em todos os casos que presenciou, disse Crouch, a operação nunca era necessária.

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