Unidade será a primeira do lendário espaço dedicado ao jazz e ao blues a funcionar no hemisfério sul. Outras três deverão ser inauguradas no Brasil até 2019. A promessa é de seguir padrões da sede em NY.
Foram seis meses de uma longa e difícil negociação. Em alguns momentos, o empresário Luiz Calainho até duvidou de que o acordo iria mesmo acontecer. No entanto, depois muita insistência, o contrato foi fechado e o objetivo, alcançado: o Rio de Janeiro receberá uma filial do clube Blue Note – a primeira a funcionar em um país do hemisfério sul.
Um dos mais disputados e tradicionais espaços dedicados à apresentação de músicos de jazz e blues no mundo – onde se já apresentaram nomes como Dizzy Gillespie, Oscar Peterson, Ella Fitzagerald, John McLaughlin, Stevie Wonder, Liza Minelli e Tony Bennett – o Blue Note de Nova York terá um braço carioca estabelecido no complexo Lagoon, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, espaço que, entre 2012 e 2016, abrigou a casa de shows Miranda.
"Fui executivo da Sony Music por 10 anos. Durante aquele período, ao longo da década de 1990, frequentava muito o Blue Note de Nova York. Desde aquela época, desejava trazer o clube para o Brasil. Depois que montei minha empresa, essa ideia se tornou uma obsessão. Foi uma negociação complicada, os proprietários são muito exigentes para permitir o uso do nome. Mas no fim eles entenderam que iríamos fazer um trabalho sério", disse Calainho, que investiu R$ 4,1 milhões na reforma do espaço.
A nova casa – que vai abrir para convidados na quarta-feira (30) e para o público geral na quinta (31) – seguirá à risca as exigências técnicas e de funcionamento da matriz em Nova York, determinadas pela família Bensusan, fundadora e proprietária do Blue Note: acústica perfeita, ambiente intimista, público reduzido e preocupação com a qualidade da gastronomia servida no local. No Rio, a carta será assinada pelo chef Pedro de Artagão.
O Blue Note Rio, com capacidade para um público de 400 pessoas, terá três bandas residentes – um duo, um trio e um quarteto. De quarta a sábado, promoverá apresentações de grandes nomes do jazz, do blues e da MPB. O local abrirá sempre às 18h30 com um happy hour seguido por duas apresentações musicais. O local também vai oferecer almoços e cafés da manhã.
A filial carioca será a primeira de uma série de outras Blue Notes que serão abertas em cidades do Brasil. Segundo o planejamento de Calainho, a meta é inaugurar uma unidade em São Paulo em junho de 2018, outra em Porto Alegre, em novembro de 2018, e ainda mais uma no Recife, em janeiro de 2019.
Um investimento incomum em tempos de recessão – sobretudo no Rio de Janeiro, que possui um histórico de falências de casas com perfil semelhante. Apesar de terem feito sucesso por tempo variado, locais como o Jazz Mania, o Mistura Fina e a própria Miranda acabaram sucumbindo à aridez econômica.
"Isso não vai acontecer com o Blue Note Rio. Essas casas que você citou dependiam excessivamente da bilheteria para sobreviver. No nosso plano de negócios, a venda de entradas representará apenas 30% das receitas – 40% virão de patrocinadores e os outros 30%, da gastronomia. Ou seja, estamos muito mais equilibrados", explicou Calainho.
A casa já tem programação garantida até o fim deste ano – estão previstos shows de Chick Corea & Steve Gadd Band, Maceo Parker, Chris Botti, Hermeto Pascoal, Spyro Gyra, Teresa Salgueiro, vocalista do grupo Madredeus, Anne Paceo, Baby do Brasil, Didier Lockwood e Sergio Mendes.
"É bom demais saber que haverá um Blue Note no Rio de Janeiro. Acho que a cidade, diante de tantos problemas que enfrenta, merecia uma notícia boa como essa. O Rio ainda é a capital cultural do Brasil. Mal posso esperar para tocar lá", disse o pianista, compositor e arranjador Sérgio Mendes, radicado nos Estados Unidos desde a década de 1970, e veterano de apresentações na matriz em Nova York.
Histórico
O Blue Note foi fundado em 1981 em Nova York por Danny Bensusan. A ideia era criar um um clube de Jazz de primeira qualidade, transformando-se, ao longo do tempo, em patrimônio cultural da cidade. O objetivo era garantir uma atmosfera intimista e aconchegante para o público e para os músicos.
Alguns dos maiores nomes do blues e do jazz já passaram pela casa – muitas vezes saíram da plateia para sessões de improviso históricas. Nos clubes de jazz é comum que, após o número principal, os músicos presentes sejam convidados para subir ao palco e tocar junto com a banda sem ensaio prévio, o que garante uma experiência única em cada show.
O Blue Note tem filiais na Califórnia, Havaí, Milão, Pequim, Tóquio e Nagoya.
Nenhum comentário:
Postar um comentário