Considerado por alguns como principal evento de moda do Brasil, a SPFW tenta se adaptar à crise repetindo a estratégia do "see now, buy now" (veja agora, compre agora)
Em uma volta rápida pelos shoppings da cidade é possível constatar um fato perturbador para a moda: as lojas estão vazias, as vendas andam fracas. Com a economia meio parada, os estilistas, as marcas e os organizadores da indústria fashion precisam se movimentar e se transformar. É exatamente esse o espírito da próxima São Paulo Fashion Week, que começou essa semana com o desfile da Animale e vai até a próxima sexta-feira, 28. Não à toa, o tema da temporada é “Trans”, o evento fala de mobilidade, trânsito, transferência e ocupação.
“Estamos repensando o formato dos desfiles, do modelo de vendas e queremos levar a moda além dos portões do Ibirapuera”, diz Paulo Borges, o idealizador e diretor artístico da SPFW. A partir desta edição, boa parte das coleções estará à venda logo após os desfiles.
O fenômeno chamado “see now, buy now” (veja agora, compre agora) foi testado na última temporada em pequenas linhas e agora realmente será posto em prática pela maioria das grifes. Com o fast fashion e a divulgação em massa dos hits das passarelas nas redes sociais, as marcas não veem mais sentido em criar o desejo no consumidor e esperar seis meses para saciá-lo, como acontecia até aqui.
Por outro lado, em um movimento mais “slow”, pequenas marcas e ateliês ganham força, com peças exclusivas e customizadas. Alexandre Herchcovitch, um dos nomes mais famosos da moda nacional, é exemplo disso. Em um intenso processo de reinvenção depois de deixar o comando de sua própria marca, que pertence ao grupo In Brands, ele assumiu o cargo de estilista da À La Garçonne, loja de seu companheiro Fábio Souza, há seis meses.
Apostou na reutilização de materiais antigos e recriou peças vintage, seguindo a direção criativa de Fábio. Na última coleção, colocou 45 looks na passarela, trazendo jaquetas de couro pintadas a mão, clássicos do streetwear como moletons, camisetas e tênis. Agora, fará evoluções sobre as mesmas peças, de forma mais sofisticada, trazendo um número maior de vestidos de festa e uma coleção masculina de alfaiataria. “O próprio garimpo dá ideias para a criação e a cartela de cores.”
Para contornar a falta de investimento, o estilista buscou parcerias diferentes. Em vez de pedir patrocínio em dinheiro, negociou o desenvolvimento dos produtos. Foi atrás do know how de marcas grandes e propôs que confeccionassem suas peças. Fechou com a Hering, a camisaria Colombo, a Converse, o joalheiro Hector Albertazzi, entre outros. “É como começar de novo, só que com 25 anos de experiência. Tenho feito um exercício criativo violento, mas estou bem feliz”, diz ele.
Com este mesmo modelo de ateliê, que transforma peças de street style em alta moda, faz sua estreia na SPFW a marca LAB, do rapper Emicida. A semana traz também novas parcerias criativas. As estilistas Juliana Jabour e Karen Fuke juntaram forças e lançaram a Just Kids, enquanto Patricia Bonaldi reuniu os estilistas Luiz Cláudio e Lucas Magalhães, de seu grupo Nohda, em um só desfile. Outra mudança da temporada é o modelo de lançamento seguindo as estações do ano. Como as peças estão sendo colocadas nas vitrines semanalmente pelas grandes marcas, o evento decidiu abandonar a nomenclatura verão/inverno.
A grife de beachwear Água de Coco, por exemplo, desfilou peças para a estação mais quente do ano na última edição, em abril, e agora vai se apresentar novamente – até 2015, a moda praia era desfilada apenas no verão.
Acostumada a investir em tops, a grife leva para a passarela um time de primeira: Isabeli Fontana, Fernanda Tavares, Carol Ribeiro, Carol Trentini e Emanuela de Paula. "Elas trazem visibilidade ao evento. Pena que nem todas as marcas consigam pagar os altos cachês que cobram”, diz Paulo Borges.
Fonte Estadão
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