quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Costanza Pascolato: " Pseudo igualdade entre homens e mulheres"

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Consultora famosa abre dicionário fashion e fala da moda sem gênero, e também comentou a nova onda de blogueiras.

"Com apenas dois anos, eu reclamava do comprimento da minha saia. Aos três anos, eu não gostava de decote. Minha mãe conta que eu chorava por causa das minhas roupas. Eu já tinha uma noção estética sobre o corpo e o jeito que os outros se vestiam desde criança", afirmou Costanza Pascolato, ícone da moda brasileira.

Em passagem por Campinas (SP), ela conversou sobre a polêmica das peças sem gênero, o papel da mulher no universo fashion e a reestruturação da moda no Brasil.

Sem gênero

Para a consultora, a mulher começou a ganhar espaço no mundo da moda quando a estilista Coco Chanel quebrou paradigmas levando para o guarda-roupa feminino calças e ternos. "A Chanel foi revolucionária em uma época em que a mulher nem votava. Ela trouxe a praticidade do traje masculino para a mulher, que vivia dentro de um espartilho. Na década de 60, funcionou a questão de homens e mulheres se vestindo de uma maneira casual, isso para dizer que ambos tinham a mesma liberdade sexual e política. Hoje em dia, essa discussão voltou", explica.

Grifes de alta de costura têm apostado na moda sem gênero, ou seja, na criação de peças e coleções sem rótulos, que podem ser usadas tanto por homens quanto por mulheres, onde palavra final acaba sendo do consumidor.

Apesar de polêmico, para a consultora de moda, o movimento não é nenhuma novidade. "É pendular, já está integrado em nossa vida. A mulher já usa calça, moletom e outras peças masculinas, não há mais frescura. A jaqueta bomber [jaqueta simples com toque fashion] é um exemplo, porque no último ano tornou-se um ícone dos estilistas, de coleções tanto masculinas, como femininas. Isso significa uma pseudo-igualdade entre homens e mulheres", afirmou Costanza.

"A juventude que nasceu depois da internet tem experiências que independem do sexo"
Costanza Pascolato

Segundo a consultora, o momento atual diferencia-se dos anos 60 devido às novas gerações. "A juventude que nasceu depois da internet tem experiências que independem do sexo, não tem o mesmo preconceito que existia antes. Os mais antenados da moda querem refletir isso. A nossa vida já é difícil e a roupa masculina é tão mais prática", brinca.

Look do dia

Questionada pelo G1 sobre a onda de blogueiras que "pipocam" nas redes sociais e viram formadoras de opinião em um piscar de olhos, Costanza diz que concorda com o movimento e que isso é fruto da liberdade que a internet trouxe.

"Antes tínhamos apenas o impresso. No minuto em que começou a abertura da internet, as pessoas, sobretudo os jovens, começaram a dar opiniões. As pessoas precisam de referências. As blogueiras se inspiravam nas atrizes durante seus papeis, mas essa coisa da personagem acabou ficando para trás. A blogueira que virou a referência", afirma.

Além do "Look do Dia", a consultora afirma que as "digital influencers" saciam a necessidade das pessoas em terem uma referência.

"Camila Coelho é um exemplo de uma delas que tem milhões de seguidores. Elas são referência de um grupo, elas são você no espelho. Antes, se você queria ter um panorama do futuro, tinha que ir a um desfile. Hoje, você vai a um desfile e as blogueiras já estão usando as peças que estão sendo desfiladas ali", explica.

Livro

Com três livros lançados, o último deles "O Essencial – O que você precisa para viver com mais estilo", Costanza conta que o processo de escrita é um desafio, já que passar conhecimentos por meio de um livro para diferentes públicos requer cuidado. 

"Eu tenho três livros e é um esforço, porque para você conseguir se concentrar e achar uma maneira simples de ensinar as pessoas não é fácil. Achar uma forma objetiva de dizer algo para um público abrangente requer esforço. Eu tenho bastante ajuda da editora", conta.

Moda nacional

Sobre a reestruturação da moda no Brasil, a consultora afirma que as peças devem ser pensadas localmente, já que cada país vive as estações do ano em diferentes intensidades.

(...) para fazer sucesso, você tem que fazer uma moda que combina com o lifestyle das pessoas que você sabe que são o seu público"
Costanza Pascolato

"A gente faz moda nos países para um público determinado. A produção é focada no mercado nacional, passou esse romance da exportação. [...] Para fazer sucesso, você tem que fazer uma moda que combina com o tipo de 'lifestyle' das pessoas. O que ele faz, o que busca, como se veste. E isso não tem nada a ver com uma americana, uma russa ou chinesa", explica.

Aos 76 anos, Costanza olha para sua trajetória com alegria e lembra que teve muita sorte, mas também foi preciso muito esforço, para chegar onde está.

"Sempre tive esse olhar voltado para a moda. Ela reflete a questão política e social do mundo. Basta olhar para ela para entender o que está acontecendo com as pessoas. Não há como aprender tudo sobre esse universo em um único dia. As coisas mudam rapidamente", conclui.

Fonte G1/Campinas.

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