Armazenamento, prazo de validade e higienização são alguns pontos a que o consumidor deve prestar atenção.
O
aumento do consumo de água mineral no Brasil, principalmente frente à
crise hídrica no Estado de São Paulo, pede consciência dos consumidores
quanto ao impacto dessa mudança na saúde. As embalagens descartáveis e
retornáveis têm uso, composição e legislação distintas, portanto
precisam de cuidados diferentes para evitar contaminações.
Garrafinhas PET devem ser limpas e trocadas regularmente. Garrafinhas PET devem ser limpas e trocadas regularmente
“Surgiu
uma lenda urbana de que não pode deixar a garrafinha de água no carro,
que ela não pode tomar sol, porque o plástico liberaria toxinas
químicas”, conta Alex Fuganholi, diretor da Unidade de Qualidade e
Segurança Alimentar do Grupo Merieux NutriSciences. Algumas dessas
toxinas, as dioxinas, desmistifica ele, são formadas em altíssimas
temperaturas (a 800 ºC) e são subprodutos de queima. Não é o caso do
aquecimento no carro, do transporte em caminhão, do armazenamento em
galpões e nem da exposição à luz solar.
Outra preocupação com as
embalagens e a temperatura de armazenamento diz respeito à transferência
de bisfenol-A (BPA) -- substância que atua no corpo como disruptor
endócrino, porque se assemelha a hormônios presentes no organismo. “Não é
esperado ter contaminantes tipo bisfenol-A na resina do PET”, explica
Magali Monteiro, professor adjunto do departamento de Alimentos e
Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp. Isso porque o
elemento não faz parte da composição química do politereftalato de
etileno (PET). Mas o BPA pode estar em qualquer embalagem de
policarbonato e no verniz interno de embalagens metálicas, diz Magali.
No
tocante à água, o policarbonato é usado para fazer garrafões
retornáveis de 20 litros, normalmente encontrados em PET, polipropileno e
policloreto de polivinila (PVC). Mas além desse uso ser cada vez mais
raro, de acordo com Eloísa Garcia, gerente do Grupo de Embalagens
Plásticas do Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA-ITAL), os
garrafões de policarbonato no mercado têm de atender à legislação da
Anvisa e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). “Se ele
está no limite estabelecido, não vai ter bisfenol na água”, afirma.
“Já
saiu matéria sobre isso e interpelamos judicialmente”, diz Carlos
Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Água
Mineral (Abinam). “A água mineral brasileira não tem os componentes que
podem migrar para o produto e causar danos à saúde. As pessoas que
comentam isso não fizeram pesquisa no Brasil. Pegaram dados dos Estados
Unidos, pior referência em termos de embalagens”, esclarece. “Da minha
posição como laboratório químico, nunca foi encontrado dioxina ou toxina
em garrafa PET”, complementa Fuganholi.
Cuidados. Mais
importante do que a preocupação com o material do garrafão é verificar
de onde vem a água, pontua Eloísa. A higienização dos garrafões
retornados é regulamentada e os distribuidores são aprovados pela
Indústria de Água Mineral, por norma da ABNT, mas o consumidor deve se
atentar à fonte da água indicada no rótulo. “É importante ver se existe
mesmo, se é reconhecida. Existe indústria séria no setor, que faz um
trabalho muito legal, mas tem picareta que enche com água de qualquer
lugar”, alerta.
Além de verificar distribuidor e fonte no rótulo,
o lacre do garrafão não pode estar violado. Aprender como higienizar o
bucal, o filtro, a parte externa do bebedouro e identificar quais as
melhores condições para estocar a água são algumas práticas indicadas
pela gerente aos consumidores.
A atenção com a higiene também
serve para as embalagens descartáveis. Embora o PET não ofereça risco de
contágio pelo produto em si, o reúso abre espaço para a contaminação
microbiológica. Em um primeiro momento, a água é engarrafada em um
ambiente sem contaminação. Mas depois de aberta, entra em contato com o
ar, com micróbios e a água de outros filtros, observa Eloísa. “Se a água
tiver um microrganismo e esquentar no carro, ele pode se desenvolver.
Tem que dar uma lavadinha na garrafa, assim como se higieniza as coisas
reutilizáveis em casa.”
Dr. Alvaro Pulchinelli, assessor médico
em toxicologia do Fleury Medicina e Saúde, também sinaliza atenção para o
lacre e o estado do produto. “As garrafas sofrem impacto, circulam para
cima e para baixo, podem ter pequenas fissuras e favorecer a
colonização de bactérias. É importante mantê-las limpas e trocá-las
periodicamente”, lembra.
Outro ponto é o prazo de validade das
embalagens. “Para água na natureza isso não existe. Mas dentro de uma
embalagem, ela tem uma barreira ao oxigênio e fica trocando ar com o
meio externo, embora você não veja nada vazando. O prazo de validade
varia em função disso”, elucida Lancia. Segundo a Abinam, as
descartáveis de vidro têm até dois anos de validade, mas quando a água
tem gás é de um ano. O PET garante a qualidade da água até um ano ou até
seis meses quando gaseificada. Garrafões retornáveis podem ser usados
em até três anos, mas a água envasada neles deve ser consumida em até
três meses.
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